Esqueçam a
forma e o conteúdo da igreja católica. Esqueçam que é igreja. Vamos chamar de “instituição”,
apenas para fins dessa análise.
Pois bem, assistindo
a primeira homilia do Papa pela TV, e de olho nas notícias pela internet, me ocorreram
dois fatos, em momentos e personagens diferentes.
O fato mais
antigo ocorreu nos jardins do Palácio do Planalto, logo que o chefe da família
Silva foi empossado na Presidência da República. Foi quando dona Marisa Letícia
mandou desenhar com flores vermelhas a estrela do PT, como se fosse lá sua
própria casa.
O fato mais
recente foi agora: a eleição do novo papa. Todos os comentários que li até
agora se referem a um bem arranjado plano de marketing da Igreja para “lançar”
seu novo produto. Penso que se a igreja fosse tão competente nesse quesito, as coisas
não teriam chegado aonde chegaram. Trocaram o marqueteiro? Pode ser, mas não
foi João Santana o escolhido, porque a linha dele é dar um “up” nos seus clientes (ver o look do
Lula no lançamento de sua candidatura ao governo de SP).
Enfim, se
foi uma troca do gestor de marketing, pelo menos agora acertaram a linha. O
luxo, a ostentação e a distância entre produto e consumidor deram lugar ao
sentido mais genuíno da igreja católica.
O estoque de
simpatia que ele conseguiu colecionar nessas poucas horas de papado, está
suprimindo até o fato negativo que ronda a “persona”: ter participado ou não de
atos favoráveis à ditadura argentina. O assunto está circunscrito à ala mais intelectual
das críticas. A própria mídia está cuidando para justificar com depoimentos e
negativas.
É diferente
de mensalão, por exemplo, coalhado de pegadas. Diferente das posições do
deputado Feliciano, que deixou marcas indeléveis em todas as redes sociais,
gravações em suas igrejas etc. Tampouco negou que paga pastores com dinheiro
público para que eles fiquem trabalhando em suas igrejas.
Voltando ao
papa.
O sujeito não
é santo. Mas confesso que me surpreendeu seu “chegar chegando”. Recusar
limusine, pagar a conta do hotel, recusar entrar no elevador sozinho são sinais
mais que evidentes de uma profunda mudança de comportamento.
Por enquanto
tudo é novidade e midiático. Vai levar um tempo até que as coisas comecem a
aparecer de verdade: o destino que ele vai dar à Curia, ao Bertoni, e à
pedofilia, por exemplo. Acho que é esperar demais que ele aprove casamento gay
e de padres, permita a ascensão das mulheres na hierarquia e, vamos combinar,
quem precisa dessa deliberação? Pessoalmente, eu espero mais responsabilidade na
questão da camisinha.
O fato é
que, na largada, ele foi muito bem. Está aproveitando a temperatura alta do momento
para passar mensagens há muito esperadas pelo rebanho, e nem precisou falar
muito. Os recados estão sendo transmitidos a roldão. Desde sua primeira
aparição na janelinha. Sem palavras.
Mirem,
marqueteiros: sem uma palavra. Sem excesso de gestos, mas com um tsunami de
atitudes que, sinceras ou não, já dão sinais evidentes a que veio. A
vestimenta, o crucifixo, o gesto de saudação (ou a falta dele), o ônibus, a
conta do hotel.
Se tudo isso
será traduzido em ação são outros quinhentos. Mas certamente tudo isso, em tão
pouco tempo, aumenta seu capital político, atrai aliados e, principalmente,
encanta seu rebanho, que já não prestava atenção nem se Ratzinger aparecesse
pelado.
Se Lula
tivesse aproveitado seu capital político na largada estrondosa, promovendo as
mudanças necessárias lá atrás, estaríamos hoje em outro País. Mas ele preferiu
entregar o comando ao que de pior havia ao eu redor. Preferiu fazer pior ainda
o que todos faziam de ruim. E como tal é a sua sucessora. Cada vez mais perdida
no emaranhado de acordos feitos debaixo dos panos do Palácio.