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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O QUE SERGIO CABRAL E O (EX) GOLEIRO BRUNO TÊM EM COMUM?

Educação rasa, acima de tudo e em primeiro lugar. Mas não é só. Além disso, em algum momento de suas vidas eles passaram a achar, erroneamente, que por estarem em posição de poder lhes seria permitido ultrapassar qualquer limite ético ou códigos de conduta sociais, mesmo que rudimentares. O mundo corporsativo também está coalhado desses tipos.

Cidadãos que ocupam cargos de grande visibilidade pública deveriam ter obrigação de entender os princípios da comunicação. E quando não sabem, devem procurar ajuda externa e seguir rigorosamente as recomendações dos especialistas. Estariam fazendo um favor a eles mesmos e à sociedade.

Dias antes de explodir na imprensa o assassinato de Elisa Samudio, Bruno declarou que “todo homem casado já tinha, em algum momento, dado umas porradas na mulher”. Esta frase infeliz e imbecil foi uma tentativa de defender o indefensável Adriano-Imperador, também jogador de futebol problemático, que tinha agredido a namorada.

SIMILARIDADE

Eis que ontem, não satisfeito em ter protagonizado o vexame de indicar publicamente um ministro sem autorização da futura presidente, Sergio Cabral, sem qualquer vestígio de polimento que a liturgia do cargo exige, declarou a uma plateia : "quem aqui não teve uma namoradinha que teve de abortar?".

Leitores, Sergio Cabral não estava na mesa de um boteco ou de sua casa com amigos. Ele falava a um grupo de empresários sobre.....sim, aborto. Não era uma conversa privada, onde eventualmente falamos coisas das quais nos envergonhariamos de dizer publicamente. Era uma missão oficial, um governador de Estado falando sobre um tema polêmico, sensível e extremamente delicado, a um grupo de empresários, durante o Exame Fórum - Rio de Janeiro - Oportunidades de Investimentos e Negócios.

Evidentemente não é minha intenção levar a discussão para o viés da moral ou religião. Primeiro porque padre nenhum pauta a minha vida, e, segundo, em minha opinião, o Vaticano é apenas um bom produto marqueteado, e como tal não tem legitimidade para legislar sobre o tema.

Existem foruns mais e melhor preparados para isso. Minha mais absoluta surpresa foi ouvir um tema dessa magnitude ser tão relezmente tratado por um Chefe de Estado, de quem se espera respeito e compreensão mínima das questões que cercam e impactam os cidadãos que o elegeram.

A frase do (ex) goleiro Bruno não foi tão chocante quanto a de Sergio Cabral porque, sabemos agora, trata-se de uma mente perturbada pela ascensão sócio-profissional: um menino pobre, cujas raízes familiares foram truncadas desde cedo, sem educação formal e de uma hora para outra com um salário que beirava meio milhão de reais por mês.

Ao contrário, Sergio Cabral, pelo menos aparentemente, teve todas as oportunidades do mundo para estudar, viveu num ambiente cultural intenso (proporcionado por seu pai, jornalista e profundo conhecedor de música popular).

Ou seja, apenas a arrogância e a falta absoluta de entendimento de sua posição na sociedade é que podem explicar um comportamento tão ralo e tão deselegante. A mensagem não verbal sobre as “namoradinhas que fizeram aborto” foi tão contundente que não deixa dúvida sobre seu comportamento machista, prepotente e despreparado.

Cabral poderia ter se livrado de mais um vexame se quieto permanecesse. Mais uma vez em menos de um mês ele dá mostras do quanto precisa aprender ainda para se comunicar em público.

Sergio Cabral deve estar sofrendo da síndrome do sucesso repentino (vem daí uma das semelhanças com Bruno) e para esse mal não tem remédio, exceto ser ridicularizado pelas costas, como tem sido às pencas.

Uma pergunta ainda martela minha mente: sentiram-se incomodados os homens presentes a esse encontro? Houve aderência de ideias? Prefeiro acreditar que não e que em pleno século XXI já existam homens que compreendem que as “namoradinhas que tiveram que abortar” sofreram traumas na maioria das vezes incuráveis e muitas delas não sobreviveram para contar a história, porque praticaram o aborto em clínicas clandestinas sem qualquer condição de higiene, por profissionais desquaificados e muitas vezes alheios à medicina. Grande parte das “namoradinhas que tiveram que abortar” o fizeram sozinhas, abandonadas à própria sorte, embora o produto do aborto tenha sido obra de um casal, um homem e a “namoradinha” (no diminutivo, evidentemente).

Eu espero, do fundo do meu coração, que a namoradinha de Sergio Cabral que teve que abortar possa ter tido melhor sorte (já que ele diz que “todo homem já teve uma namoradinha que teve de abortar. E até onde se sabe ele pertence ao gênero masculino).

Serginho Cabralzinho está se superando. Pobre do Rio de Janeiro com seus políticos infames. Aliás, os cariocas conseguiram eleger uma dupla imbatível. Apenas para dar nome aos bois em mais uma pérola da política carioca, numa reunião semanas atrás para tratar de um benefício que seria concedido à população de baixa renda, o prefeito Eduardo Paes pediu que fosse aplaudido. “Podem aplaudir, porque a gente gosta”, disse o prefeitinho. Tenho muita pena da assessoria desses caras.

O Rio de Janeiro continuia lindo, sim. E até por isso merece mais respeito de suas “autoridades”. Que o governador usasse desse linguajar em sua casa, na intimidade com seus pares, lá vai, afinal, a ignorância de alma não tem cura. Mas daí a achar que o Palácio Guanabara é o seu quintal vai uma grande distância. Haja media-training!!!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

CARLA CAMURATI TROPEÇA NA COMUNICAÇÃO

Profissionais em posição de liderança, com exposições frequentes na imprensa, ou aqueles que geralmente são consultados para opinar sobre suas áreas de atuação têm que ser treinados por gente especializada.

Treinamento, reforço, prática: fonte bem treinada garante que a mensagem chegue com nitidez, clareza e minimiza riscos. Em qualquer área, seja ela corporativa, artística, governamental, etc.

Esse preâmbulo foi para comentar a entrevista de Carla Camurati, presidente da Fundação Theatro Municipal, e que acompanhou por quase três anos a reforma do Teatro Municipal do RJ.

Parte do gesso do hall do teatro desabou ontem, ao final da premiação dos melhores do Campeonato Brasileiro de Futebol.

Na entrevista Carla diz que o acidente ocorreu porque houve excesso de ruído, que reverberou de forma muito intensa, fazendo o gesso desabar.

Carla poderia ter dito qualquer outra coisa, menos isso, porque num teatro os ruídos, barulho e grande fluxo de pessoas são matéria-prima que o faz funcionar. Evidentemente ela não estava preparada para uma crise dessa proporção. Não foi treinada, possivelmente confiante de sua experiência à frente e atrás das câmeras.

Como se viu, não é suficiente. Treinamento, reforço e prática são essenciais para que se evite esse tipo de escorregão.

Não se concede uma entrevista no calor de um acidente sem preparação, sem bater bola com a assessoria de imprensa. Ela poderia ter dito que já determinou uma minuciosa apuração; que a empresa que realizou o serviço já foi acionada para explicar; que está aguardando o laudo da perícia etc, etc, etc. Foi precipitada e disse exatamente o jamais poderia ter dito, pois um teatro sem ruído não é teatro. Essa resposta seria aceitável para um templo, nunca para um teatro.

Como presidente da entidade e empenhada durante tanto tempo na restauração do Teatro Municipal do RJ, Carla deveria ter sido submetida com certa regularidade a media-training, ferramenta que treina pessoas como ela, executivos e governantes a se relacionarem com a imprensa ou outros públicos estratégicos, de forma a passarem a mensagem mais adequada para cada tipo de circunstância.

Mais uma vez, tudo foi pensado na magnânima obra de restauro, exceto na comunicação. Opsss, esqueceram também da qualidade do gesso!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

NA CRISE, NÃO SE EMPOLGUE. CABRAL JÁ APRENDEU.

Os últimos acontecimentos no RJ são realmente uma aula sobre gestão de crise. Dos dois lados: o que fazer e o que não fazer se a sua empresa estiver atravessando uma crise. Primeiro, faça do seu público interno um grupo de aliados; segundo, não se empolgue com o sucesso: fale e atue com moderação.

O governador do RJ, Sergio Cabral, estava indo muito bem até que.....escorregou. Não, não foi um escorregão, foi uma batida de frente com uma jamanta.

Empolgadíssimo com o sucesso das operações de combate ao tráfico de drogas nos morros cariocas, passou por cima de tudo e todos e indicou um nome para o Ministério da Saúde do governo Dilma. Sabe-se lá o que ela respondeu a Cabral, mas o fato é que ele saiu em disparada declarando em alto e bom som que seu Secretário de Saúde fora o escolhido, por sua indicação, como ministro da pasta. E mais: disse aos microfones que em nome da Presidente ele mesmo fez o convite e o secretário aceitou.

Ele apenas esqueceu de fazer o óbvio: combinar com os russos, como diria Garrincha, se vivo ainda estivesse. Como já se foi, diriamos nós que Cabral deveria ter tido a humildade (eita palavrinha difícil) de combinar com os caciques do seu partido -- PMDB -- que não é muito afeito a levar desaforos para casa.

Resumo da ópera: dia seguinte está a tropa de elite inteira desmentindo, e o secretário, que até então estava quietinho no seu canto, acabou com cara de tacho. Quantos espumantes não devem ter sido abertos durante a noite em que permanceu no ministério! Vamos lá, de novo: Na crise


- fale estritamente o necessário

- não superestime a vitória

- avalie o cenário

- a arrogância leva à solidão