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domingo, 25 de julho de 2010

ANTES TARDE DO QUE NUNCA

Já disse isto neste espaço, mas repito: em crises corporativas, o "timing" das ações pode ser fator decisivo no sucesso ou fracasso das operações. O Clube de Regatas Flamengo demorou, mas reagiu, agora de maneira correta. Patinou na retomada, mas engatou uma rota de acertos que certamente vai colocar o clube nos eixos.

As últimas ações mostram que Zico foi destacado para tomar as rédeas do caso. Ele é a fonte de todas as matérias: com falas firmes, seguras e discurso consistente. Patrícia Amorim tirou férias (é assim mesmo que se tira um elemento que não contribui na fase crítica).

A entrevista nas Páginas Amarelas da revista Veja é a materialização do resgate. Foi matadora: Zico teve oportunidade e aproveitou o espaço para falar de valores e da missão do clube. Esse posicionamento é a pedra de toque que faltava para mostrar à opinião pública o esforço, a disposição e empenho da diretoria em descolar o clube dos escândalos sucessivos a que vinha sendo exposto por um grupo de atletas.

Esse mote -- valor, visão, missão -- posiciona o público interno, até então carente de uma liderança firme, assim como toda a sociedade, e principalmente os esportistas, sobre as intenções do Clube em tomar para si a responsabilidade sobre a reconstrução da marca Flamengo, tão apedrejada nos últimos meses.

Ninguém melhor que o Zico, um atleta cuja imagem é irretocável, para conduzir esse processo. A presidente, Amorim, mostrou-se incapaz de promover essa condução. Deu no que deu.

Há semanas comentando esse caso do ponto de vista técnico da gestão de crise, este torna-se, portanto, o último post a respeito. Todos os aspectos que eu havia destacado como prioridade para tirar o Flamengo do olho do furação, estão sendo implementados. Muito legal.

terça-feira, 20 de julho de 2010

FLAMENGO: COMEÇOU A LAVAGEM DE ROUPA SUJA. TUDO DENTRO DO ROTEIRO

Reza o manual que a maioria esmagadora das crises institucionais de imagem são geradas por problemas relativos à comunicação. O caso Flamengo x Bruno é mais um para a lista. Não tirei essa tese da cartola. Quem a expôs, agora, foi a própria diretoria do clube, na pessoa de Helio Baz, um dos presidentes do Conselho do Clube.

Segundo matéria hoje em www.globo.com Braz lamentou a forma como o caso foi conduzido na imprensa pela presidente. Braz teria afirmado que ela (Patricia Amorim, presidente do clube) ligou o possível envolvimento do goleiro à falta de comando no departamento de futebol durante a gestão do ex-dirigente.

Numa crise, não se lava roupa suja via imprensa. Os temas internos, estratégicos, devem permancer como tal, para o bom andameno da questão. Desde o princípio estava claro que havia conflito entre os dirigentes. Agora apenas se tornou público. Pena, porque enquanto isso, a situação vai se deteriorando a cada dia. Um novo indicativo, também previsto neste Blog em post anterior, é como os jogadores estão enfrentando a crise. Essa evidência foi materializada pela entrevista concedida pelo atleta Petkovic, que afirmou: "não sabemos mais o que pensar".

Ou seja, o público interno, aquele que efetivamente carrega o bastão, está totalmente perdido, descompensado e a despeito de tudo, ainda tem que entrar em campo e fazer bonito. A pergunta agora é: como esses atletas têm sido orientados? Que tipo de apoio eles têm recebido? Que posicionamento receberam em relação à imprensa? Acorda Flamengo!!

Ai que preguiça!! Tudo tão previsível!

O TREM DESCARRILOU. DE NOVO

Eu bem que tentei. Depois de dias e dias descendo o porrete no Flamengo pela forma como a diretoria vem conduzindo a crise instalada pelo (ex) goleiro, escrevi um artigo exaltando a reação dos dirigentes durante o último fim de semana (entrevista, mea-culpa etc). É o post anterior a este.

Menos de 24 horas depois, vem tudo abaixo novamente. A diretoria recuou, e revogou a demissão do (ex-goleiro). O que vem depois é mais que prevível: notas difusas, falsos argumentos e o mesmo blá-blá-blá de sempre quando ninguém se entende.

O recado dessa nova ação desastrada (é quase uma por dia) que passa nas entrelinhas é de que o (ex) goleiro ainda exerce poder no clube da Gávea. Aí fica igual maionese quando desanda: não adianta tentar consertar, o estrago já está feito e a tendência é piorar. Patricia Amorim, por exemplo, não precisava vir a público contar que o(ex) goleiro tinha liderado um motim bem antes desta crise. Por que ela, então, como presidente, não tomou as providências que deveria ter tomado, conhecendo a conduta do jogador?

O papel de Patrícia agora é outro: e esse "outro" não passa nem perto de jogar mais lenha na fogueira, expondo as fragilidades do time, o bundalelê que prevalecia antes de acontecer o pior. Melhor ficaria se a direção tomasse verdadeiramente o papel que lhe cabe, e começasse a agir com maturidade.

Primeiro anunciou com estardalhaço a constituição de uma Comissão de Notáveis para avaliar a situação e dar um "veredito". Que coisa é essa de comissão de notáveis? Fico tentando imaginar como deve ser a war-room dessa crise no Flamengo (se é que uma war-room foi efetivamente montada). Provavelmente cheia de gente, algumas pessoas se sentindo a última coca-cola do deserto, palpites mil fervilhando e... quando se decide finalmente pela ação, percebe-se (depois de anunciá-la) que esta não seria a mais adequada (pelo menos juridicamente), embora ninguém ainda esclareceu os verdadeiros motivos que levaram os dirigentes a cancelar a demissão do (ex) goleiro. Como ficam os "notáveis" diante dessa derrapada feia?

À moda FHC, esqueçam o que eu escrevei no post anterior. Mais uma vez a direção está provando que não tem técnico ajudando na conduição dessa crise. E se tem, esse profissional ou equipe não está sendo ouvido. E portanto, a resposta é: não tem. É mais honesto pelo menos. Esse comportamento é muito recorrente em situações semelhantes. Mas está passando da hora dessa direção abaixar o topete e enfrentar o problema sem estrelismo, sem trapalhadas, sem derrapagens.

Pra isso, eles nem precisam de "notáveis" !!!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

FLAMENGO COLOCA O TREM NOS TRILHOS

Em grandes crises corporativas as lideranças, normalmente, entram em parafuso. O resultado disso é que demoram a agir. Sempre há a esperança de não ser atingido, ou que a crise não passará de uma chuva de verão.

Infelizmente, não é bem assim que banda toca. Reconhecer a crise, encará-la e buscar ajuda é o primeiro passo para arrumar a casa. O Flamengo é um exemplo clássico. Ignorou publicamente o quanto pôde, e erroneamente, tentava passar a ideia de que a crise não o afetava, porque foi deflagrada por questões pessoais de um atleta. O azar é que o atleta em questão vestia a camisa do time da Gávea.

Não posso discorrer sobre como e porque o Clube, quase dois meses depois, resolveu adotar medidas técnicas para conter a crise instalada, sim, debaixo da saia da presidência. A verdade é que, felizmente, a diretoria começou a agir. Primeiro, atabalhoadamente (ver post anterior), com uma entrevista coletiva com o foco errado. Mas tudo bem, já foi um começo.

Ontem, domingo, Zico foi ao Fantástico (TV Globo) e fez o "mea-culpa" necessário. Foi enfático, mostrou segurança (está acostumado com câmeras sobre seu rosto) e deu o recado. A segunda medida, quase que simultaneamente, foi, talvez, a mais emblemática: anunciou a demissão -- por justa causa -- do (ex) atleta.

Curiosamente, por acaso (????), nesta segunda-feira, já aparecia na internet notícia de que a AMBEV estaria assinando contrato de patrocínio.

Resumo da ópera: a crise afasta clientes, patrocinadores e promove insegurança no público interno. Enfrentá-la traz dividendos. Sejam eles de ordem financeira ou de imagem.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

ENTREVISTA DE ZICO FOI MAIS UM DESASTRE NO MEIO DE TODO CAOS

Zico finalmente vem a público para se posicionar sobre as recentes crises que estão levando o Clube para o fundo do poço. Tudo indica que o clube continua dispensando ajuda técnica no gerenciamento dessa crise. Do ponto de vista da comunicação corporativa, a entrevista foi um desastre. A saber:

1- Na entrevista coletiva concedida ontem (13/07) Zico afirma que o título -- o Campeonato Brasileiro -- acabou sendo “muito ruim” para os jogadores. Com essa frase infeliz, Zico desqualifica toda equipe que continua carregando o bastão e sofrendo na pele as consequências de atos praticados por quem já saiu . Em vez de levantar o moral da tropa, ele coloca todos no mesmo balaio, sem qualificar, realmente, quem deflagrou toda bagunça no Clube. Ou seja, sem querer, e sem perceber, continua protegendo os verdadeiros geradores da crise.

2- Na mesma entrevista, Zico continua: “não é porque ganhou que se pode fazer tudo”. A conuista do campeonato não tem nada a ver com os fatos gerados pelos jogadores infratores. Uma coisa é o talento dos jogadores, outra coisa é o caráter da equipe como time. O que Zico tem que perceber é que as duas coisas devem andar juntas e o time precisa dar ferramentas para que isso aconteça. E isso não vai acontecer apenas a despeito da vontade de Zico e de Patrícia Amorim, exemplos de atletas em campo e fora dele.

3- Zico continuou pegando o gancho errado quando afirma “é preferível não ganhar”. Insistiu na tese de matar o entregador da mensagem ruim.

4- Zico disse “que o clube está sendo achincalhado”. Isso o mundo inteiro já sabe. Que notícia nova ele trouxe, depois de quase um mês de atraso. Sim, ele está anos luz atrasado, quando se esquivou por todo esse tempo de vir a público dar à sociedade uma posição do clube em relação à gravidade dos fatos que vinham ocorrendo na Gávea.

5- O diretor técnico aproveitou o espaço para mandar recado: “os jogadores terão que resgatar dentro de campo o orgulho do torcedor flamenguista”. Helô!!!!!! Zico, as faltas gravíssimas, foram cometidas fora do campo e não por esses jogadores que estão segurando a bucha: a eles a direção deve dar apoio profissional, ferramentas para que mostrem, com atitudes, que eles não são Vagner Love, Adriano ou Bruno. Dentro de campo eles já mostraram a que vieram.

6- Em vez de buscar as ferramentas que poriam ordem na casa, levantariam a moral da tropa que sobrou, Zico vem com a possibilidade de trazer Ronaldinho Gaúcho como “presente” à torcida destroçada. Ora, antes de trazer Ronaldinho, é preciso limpar a sujeira deixada pelo trio ternura. Criar uma missão (além de ganhar títulos), enraizar valores e dar uma luz aos rapazes que ficaram para carregar o bastão.

Pena, o Galinho de Ouro perdeu uma chance de ouro de marcar mais um gol.

A FICHA NO FLAMENGO NÃO CAIU

Parece que a ficha ainda não caiu na diretoria do Flamengo. Os graves problemas que atingem o clube há meses, provocados pelo comportamento de seus atletas com maior visibilidade não serão superados senão com a ajuda de especialistas. Os dirigentes não são especialistas em comportamento humano e em comunicação.

Em entrevista coletiva, o maior expoente do Clube de todos os tempos, Zico, agora diretor técnico, pediu desculpas à torcida e disse que o clube tem sido achincalhado. Verdade. Mas Zico desperdiçou a oportunidade de lançar o que seria o fato mais importante para uma definitiva recuperação: os valores do clube, que deveriam ser os mesmos valores inerentes ao esporte.

A diretoria está tentando fazer o trabalho sozinha e se não está, pelo menos parece. Alguns rumores dão conta de que a presidente, Patrícia Amorim, se reuniu com os jogadores para pedir-lhes que evitem se envolver em confusão. Não é de Patrícia essa missão. E a recomposição do moral da tropa passa muito longe disso.

Esses rapazes precisam de orientação psicológica. O trauma tem sido de todos. É preciso a constituição de uma equipe multidisciplinar, acompanhamento regular, orientação profissional de verdade, e não continuar nesse eterno passa-a-mão-na-cabeça.

É preciso – urgente – a constituição de uma equipe de gerenciamento de crise, especializada, composta por profissionais de saúde, de comunicação, jurídica e financeira para orientar esses rapazes e o próprio clube. O Flamengo precisa se reinventar como empresa, determinar sua missão, visão e valores e, assim feito, transmitir e exercitar esses pontos, primeiro, com seu público interno, e depois transmitir à comunidade, à sociedade.

Zico só disse o óbvio: “o clube está sendo achincalhado”. Sim, e o que a diretoria tem feito a respeito? Vem a público mais de um mês depois para dar qual notícia? Esta? Isso todo mundo já sabe. Ele e Patrícia Amorim, liderança máxima do clube que não mostrou a cara até agora, precisam vir a público e demonstrar claramente que ações estão sendo adotadas para que esse processo cesse definitivamente. E ele não vai cessar por osmose. Não vai parar apenas porque esse é o desejo deles. Vai parar quando se adotarem medidas realmente técnicas para recolocar o time nos trilhos.

Zico e Patrícia são exemplos de atletas, estão fazendo um belíssimo trabalho técnico, financeiro talvez. Mas estão patinando na comunicação, no marketing, no relacionamento com a sociedade e por consequência com aqueles que mantêm efetivamente essa estrutura: os torcedores.

Eles estão agindo como se não devessem isso ao torcedor. A falta de posicionamento claro, de informações consistentes só deixam mesmo o torcedor decepcionado. É preciso argumentos, ações para motivar, levantar a galera e resgatar o orgulho do time. Isso é trabalho para outro time.

sábado, 10 de julho de 2010

A VACA FOI PRO BREJO - FLAMENGO JA TEM UM APOSTO NOVO

Há uma semana venho comentando o caso "Bruno", chamando a atenção do Flamengo para sua leniência em relação à crise que batia à porta do clube. Pois bem, agora ela já entrou e tirá-la é mais difícil. Gestão de crise é matéria complexa, mas depende fundamentalmente de um fator: "timing". O Flamengo perdeu o bonde da história e a grande chance de se desvincular de um dos crimes mais hediondos da história policial deste país.

A revista Veja desta semana corrobora toda a tese que defendi ao longo de toda semana e estampa nas páginas desta edição a falta de responsabilidade com que os dirigentes vêm tratando a crise chamada "Bruno".



1- Demorou para adotar uma atitude em relação ao capitão do time,. o goleiro Bruno

2- Tomou a decisão errada quando apenas afastouo jogador, sem demiti-lo

3- Continuou errando quando a direção, sobretudo a presidente do clube, se negam a vir a público e defender uma posição firme contra impunidade,

4- Continua errando quando não declara seus valores e missão diante da sociedade, permitindo que o crime se misture à história do clube

5- Continua errando quando se nega a se posicionar, considerando um lastro suficientemente forte o tamanho da torcida

6- Continua errando porque,sem se posicionar, dá margem à alusão de conivência ao crime

7- Continua errando e elevando toda categoria esportiva ao mesmo patamar

8- Continua errando porque permite que as maçãs boas sejam confundidas às podres

9- Daqui em diante, o Flamengo, time que protege um suspeito por crime hedionado, ganhou esse lindo aposto. Que pena. E eu que apostava na sensibilidade de uma mulher na presidência. Errou feio Patricia Amorim. Liderança é cérebro. E o Flamengo mostrou que não conta com isso entre seus talentos.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

OS ERROS CONTINUAM NO FLAMENGO

Um barco sem capitão, um time sem técnico. Essa é a impressão que passa a nota fria distribuída à imprensa sobre a decisão do Flamengo em suspender temporariamente o contrato do goleiro Bruno.

A capitã, no caso Patrícia Amorim, presidente do clube, não se pronuncia à torcida, aos sócios, à sociedade. É como se ela não tivesse nada com isso e o clube não devesse qualquer posição à sociedade. Em tese, é verdade. Ela não é obrigada a falar, a convocar uma coletiva e expressar a opinião da agremiação. Mas as coisas não funcionam de forma tão cartesiana no mundo da comunicação.

Patrícia é presidente (liderança máxima) da agremiação com a maior torcida do País. São dela as rédeas do jogo. É hora de materializar uma posição firme e enérgica contra violência, ratificar os valores, visão e missão do Clube e, obviamente, expressar indignação, em solidariedade ao absoluto espanto da sociedade frente à barbárie que vem sendo mostrada por meio dos depoimentos prestados pelo menor preso na quarta-feira.

Patrícia poderia virar o jogo e ganhar de 4 x 0. Mas prefere a posição morna e inconsistente das notas frias distribuídas pela assessoria de imprensa. De longe, a impressão que fica é de que o gato subiu no telhado. Telhado de quem ainda não se sabe. O clube adotou a política so silêncio, do nada a declarar, em "advogadês". Perde a grande chance de declarar seus valores, missão e visão e de ganhar a simpatia de alguns descnentes. A não ser que a história seja outra. O tempo dirá.

POR QUE O FLAMENGO SE ESCONDE?

Por intermédio da assessoria de imprensa, Zico informa que não se pronunciará sobre o caso (Bruno, goleiro). Mais que previsível. Não se poderia esperar outra reação. Os times brasileiros funcionam como grupos de várzea, faturam como multinacionais e se lixam para sua relação com a sociedade e portanto, com a própria atividade (esporte envolve saúde, equilíbrio, exercício de cidadania, etc).

Mas o Zico é diretor técnico, e em que pese sua importância histórica para o clube, a palavra cabe à presidência, hoje a cargo de Patrícia Amorim. Ela tem resistido a vir a púbico, e com isso já conseguiu atrair para o clube comentários nada simpáticos. Poderia evitá-los, poderia sair dessa crise mais fortalecida, poderia reverter uma situação ruim de associação negativa imediata a ações positivas e salutares à imagem do clube.

Estar à frente de uma crise requer pensamento estratégico, coragem, disciplina e argumentação. Por quais motivos Amorim estaria se esquivando de um pronunciamento, ninguém sabe. Haveriam problemas trabalhistas envolvidos? O clube está protegendo o (ex) atleta?

Essas perguntas já têm sido formuladas por críticos, cronistas esportivos, formadores de opinião. Se ela (a presidente) não sabe respondê-las, é outra história. Mas, é, sim, sua obrigação vir a público e arrastar a cantilena, porque deve isso aos sócios, torcida e à sociedade. O Flamengo é uma organização esportiva, e como tal precisa se posicionar sobre temas que gravitam em seu entorno. É assim que funcionam as sociedades modernas.

A exemplo das empresas, que cada vez mais adotam causas socioambientais como forma de participarem efetivamente das comunidades nas quais estão inseridas e nas quais suas atividades provocam impacto, os clubes também se relacionam com a sociedade. O fato concreto é que um (ex) atleta do Flamengo está envolvido num crime de proporções até então inimagináveis e a liderança máxima deste time deve expressar sua posição em relação à circunstância. Impossível desvincular o fato de que Bruno confunde-se com o Flamengo, tanto quanto qualquer funcionário que prega um crachá numa camisa. Ao fazê-lo, esse funcionário expressa a visão, a missão e os valores daquela companhia. Exatamente o que Bruno fazia sempre que vestia a camisa número 1 do clube.

Porém, ao contrário do funcionário de crachá que bate cartão todo dia, Bruno contava com uma máquina midiática estrondosa e portanto a responsabilidade torna-se muito maior, pela abrangência de público que alcança.

Patrícia Amorim está em débito. E, pelo menos aparentemente, não tem qualquer motivo para isso.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

FLAMENGO PATINA E NÃO FAZ A LIÇÃO DE CASA

E vai rolando em cadeia nacional (internacional também) o caso Bruno, goleiro do Flamengo. Enquanto a principal emissora de TV do País desvenda detalhes horripilantes do caso, o clube (Flamengo) anuncia que está constituindo Comissão para decidir o destino do jogador dentro da agremiação. A presidente, Patricia Amorim, não veio a público (exceto uma única e evaziva vez) para dar à opinião pública a posição do Clube sobre o caso.

A falta de uma iniciativa incisiva por parte do clube já começa a chamar a atenção de observadores, formadores de opinião e críticos esportivos. O estrago está feito. Amorim não toma para si a liderança desta ação (emergente), assim como não deixa claro, na noite da prisão do jogador e sob todas as evidências, qual a posição do clube em relação ao jogador. Começa a parecer conivência,leniência e incompetência.

A temperatura de cada crise é diferente, mas o comportamento das lideranças deve obedecer padrões técnicos. A letargia pode ser fatal quando a liderança se omite, demonstra medo e insegurança. O Flamengo, infelizmente, já foi afetado. E poderia não ter sido. Bastasse uma atitude firme da liderança para eximir a agremiação de qualquer comentário negativo.

O "timing" é fator crucial em qualquer crise, de qualquer magnitude. Boatos, comentários negativos e ligações perigosos sao estancados com informação, firmeza e, sobretudo, com exposição de valores. Amorim tem se esquivado. Pior: já passa à imprensa a sensação de estar protegendo o (ex) atleta. Estaria? Por que não houve posicionamento mesmo depois de tantas evidências, pedido de prisão preventiva, detalhes sórdidos na imprensa? O tempo, talvez, responda a questão, mas o Flamengo, detentor da maior torcida nacional, já está nos anais de casos críticos, monstruosos e inaceitáveis.

OLYMPIKUS

Ao contrário da presidente do Flamengo, Patricia Amorim, que segura a bola aos 48 do segundo tempo da partida, o patrocinador do (ex) atleta acaba de se manifestar(embora tardiamente, dadas as circunstâncias e gravidade dos fatos). A Olympikus suspendeu o patrocínio ao jogador, até que surjam provas em contrário.

Atletas de grandes clubes, com grande exposição, assinam contratos draconianos com seus patrocinadores. Não conheço os termos do contrato de Bruno com a Olympikus, mas geralmente, nesses casos, os "ídolos" se comprometem a cumprir uma série de exigências, entre elas manter padrões sociais compatíveis ao que se espera de grandes atletas. Há contratos, até, que citam valores morais, uma vez que esses jogadores representam suas marcas, seus valores, missão e visão. Devem ser exemplos de saúde, espírito esportivo e convivência social.

Portanto, a Olympikus também demorou a se posicionar, uma vez que as suspeitas sobre o (ex) atleta jé vêm sendo ventiladas há quase um mês, sendo intensificadas a cada dia, desde que o caso veio à tona. Poderiam tê-lo feito há mais tempo, sob a condição de aguardar averiguações (o contrato certamente tem essa previsão).

O Flamengo e a Olympikus já sabiam perfeitamente com quem estavam lidando. Se alegarem ignorância, serão tachados de negligentes, pois Bruno não escondia de ninguém seu temperamento explosivo e o desprezo por regras sociais (declarou ser normal a troca de tapas entre casais em uma entrevista coletiva,com intenção de defender outro encrencado, Adriano-Imperador, que só não teve a situação piorada porque conseguiu uma sobrevida num time italiano).

Às 22hs do dia em que, desde as primeiras horas da manhã a situação de Bruno se complicava a cada hora, o Flamengo ainda insiste em declarar, via assessoria de imprensa, que está convocando Comissão para decidir o futuro de Bruno. Letargia e incompetência. É Patrícia, rapadura é doce,. mas não é mole.

IMAGEM: TODO CUIDADO É POUCO

Numa palestra há três semanas, eu lembrava aos ouvintes que uma crise institucional pode atingir, em diferentes graus, pessoas, empresas, ONG's, clubes de futebol etc. O caso do goleiro Bruno ainda não tinha ganhado tanta força.

Pois temos aí, nesse caso, um exemplo de crise clássica em um grande clube de futebol, que por acaso abriga a maior torcida do País. Pois bem, a maionese desandou e Patricia Amorim, na qualidade de presidente do Clube, não conseguiu domínar o meio de campo. Uma instituição pode ou não ser atingida por uma crise, em maior ou menor grau, conforme for a sua capacidade de se antecipar aos fatos e adotar a atitude mais adequada e favorável à sua imagem.

Em situação de crise não se espera a evolução dos fatos. Toma-se atitudes. Patricia Amorim amoleceu. Esperou demais e não afastou o goleiro, tão logo surgiram os primeiros boatos de desaparecimento de sua amante. Permitiu que o assédio da imprensa ao goleiro fosse feito durante os treinos, nas dependências do próprio clube.

Ok, o Flamengo não é o Bruno. Mas o Bruno é (ou era) o Flamengo. Desvincular o quanto antes a imagem de um e outro era de fundamenal importância à imagem do Clube, sobretudo para se preservar de um fato de tal magnitude. Em segundo lugar, como resposta enfática à opinião pública, acerca de sua plena isenção ao fato, mas principalmente, para evidenciar que não corrobora com a violência, e estava, sim, em campo absultamente neutro.

Entre os primeiros boatos e o efetivo afastamento do jogador foi quase um mês. No dia em que as Polícias do Rio de Janeiro e Minas Gerais já consideravam o goleiro como foragido, o Flamengo ainda estava reunindo uma Comissão para decidir sobre seu afastamento.

Movimentação lenta, decisões tardias e patinação. O Flamengo não foi envolvido diretamente, mas um dos seus princpais quadros foi. Isso já era o bastante para uma tomada de decisão ágil, enfática e enérgica. O Flamengo perdeu uma grande chance de mostrar uma atitude firme conta a violência, já que declarações anteriores do (ex) atleta apontavam uma personalidade no mínimo difícil (para defender o colega Adriano, disse à nação que todo homem já tinha, alguma vez, dado uns tapas numa mulher).

Presidir uma organização, seja ela empresarial, esportiva, governamental etc, significa olhar as questões por todos os ângulos e agir na defesa dessa instituição, mesmo que em detrimento de seus quadros, quando a dúvida ainda é a única certeza. É preciso um olhar inquieto, recorrente, sistêmico e sobretudo ágil para analisar o comportamento de seus quadros e colaboradores, estabelecer valores sociais e morais e difundi-los entre seus integrantes.

O futebol como negócio é leniente. Aposta no "jeitinho brasileiro" e não adota as melhores práticas de gestão, por inépcia ou comodismo. No caso do goleiro Bruno, o Flamengo deixou a bola correr muito solta; agiu como se o (ex) atleta não fosse membro da agremiação. Ingnorou as evidências e tirou o jogador de campo aos 47 do segundo tempo. Perdeu a chance de mostrar uma outra cara: moderna, arrojada e comprometida com os valores sociais a que pertence.