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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

COITADO DO(A) ASSESSOR(A) DE IMPRENSA DA GISELE BÜNDCHEN

Algumas pessoas perdem completamente a noção de tempo, espaço, coerência e bom senso quando chegam ao topo. Alguns se imbuem do direito de opinar sobre tudo e todos, como se a fama lhes conferisse o domínio sobre todos os temas, se lixando para a carga de preconceito, desinformação e ignorância que muitas de suas mensagens produzem.

Quando isso acontece, não tem assessor de imprensa que salve. O resultado é previsível: arranhões desnecessários na imagem da figura pública, e, em estágios avançados, revisão dos patrocinadores / anunciantes baseados no “bobajômetro; ou dos eleitores, do consumidor, ou quem quer que esteja suscetível às mensagens mal colocadas. Por isso, minha recomendação aos meus clientes é sempre categórica: fale apenas sobre aquilo que tem domínio absoluto. Na dúvida, fique quieto, ou quieta.

Normalmente isso acontece com jogadores de futebol, políticos e alguns empresários despreparados. Ultimamente, quem tem derrapado feio e além da conta no quesito “opinião” é a top brasileira Gisele Bündchen, cujas tiradas já começam a despertar a atenção da mídia – nesse caso internacional – sobre as bobagens que tem dito, em tom de verdades absolutas e inquestionáveis. Algumas delas:

"Não coloco esse veneno na minha pele." (sobre protetor solar)

"Algumas mulheres quando engravidam acham que podem se tornar um triturador de lixo. Eu tinha consciência do que comia, por isso só ganhei 13 quilos." (Sobre quilos extras na gravidez)

"Deveria ter uma lei que obrigasse as mães amamentarem seus filhos até os seis meses." (Sobre amamentação).

Depois destas (e outras não menos infelizes), o jornal New York Post saiu com a seguinte manchete: “Shut up, Gisele”.

Ao sair por aí vomitando regras tão cartesianas, Gisele demonstra, primeiro, uma falta absoluta de visão do mundo. Portanto, melhor seria fazer apenas o que sabe fazer de melhor: interagir com as câmeras fotográficas.

Isso apenas já estaria de bom tamanho. O mundo – e a Sociedade Brasileira de Dermatologia, por exemplo – já estariam satisfeitos sem a sua opinião sobre protetores solares.

Sobre mulheres que engordam na gravidez, demonstra uma tremenda alienação –que só reforça preconceitos e estigmas sobre as modelos – a respeito das condições de vida das mulheres comuns, que não têm nem um décimo das condições da modelo – genéticas e financeiras – para manter o corpitcho em ordem depois de nove meses carregando um rebento no ventre. Seria de bom tom que um assessor mais preparado inteirasse a top sobre as condições de vida das mulheres -- trabalhadoras e brasileiras --, muitas das quais mal têm dinheiro para comprar as vitaminas prescritas durante a gestação.

Gisele mantém e reforça a alienação ao desconsiderar, de novo, as condições físicas, emocionais e financeiras de mães que desmamam seus filhos antes dos seis meses de idade. Afinal, não são todas as mulheres da terra que podem carregar seus rebentos, pra lá e pra cá, acompanhadas de um séquito de empregados, e tirar o peito pra fora sempre que o garoto chora.

Apenas para lembrar, a grande maioria, a maioria esmagadora de mulheres trabalha fora, depende de creches, quando existe creche perto de casa ou trabalho, da benevolência dos chefes, entre tantas outras variáveis, depois que pariram suas crias. Amamentar ou sobreviver no campo profissional não é exatamente uma questão de escolha. E sobreviver no campo profissional, para grande parte das mulheres, significa sobreviver, no sentido lato.

Parafraseando a própria Gisele, eu acho que deveria haver uma lei que proibisse as celebridades de falarem tanta bobagem, exporem tanta ignorância, já que esse mal os assessores de imprensa não conseguem evitar.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A SAÍDA DE RONALDO – UMA VISÃO MENOS APAIXONADA

Esta visão é de quem opera (muito) com gestão de crise. Nada a ver com a paixão pelo futebol, a admiração pelos ídolos e a pança do jogador.

Ronaldo ficaria muito bem obrigado até o fim do seu contrato, não fosse o fiasco do jogo que decidiu sua participação na Libertadores, fato que ultrapassou o limite da paciência do torcedor (o efetivo consumidor). Afinal, ele já não fazia nada em campo há muito tempo, tendo se transformado numa espécie de RP de luxo do time.

A derrota para o Tolima tirou o véu cor-de-rosa que estava sobre os olhos do torcedor: a permanência de Ronaldo e Roberto Carlos, jogadores caríssimos, não evitou a derrocada; pelo contrário, expôs um time sem lideres, sem planejamento, sem jogadas. Apenas óbvio. Apenas produtos ruins, pelos quais o time pagava muito caro.

E contra um produto ruim, não há estratégia de marketing que sustente. Uma hora a casa cai. E a casa caiu para Roberto Carlos e Ronaldo, ambos cobrados até a alma pela torcida enfurecida.

Não entendo muito sobre jogadas de futebol, mas um pouco sobre marketing. O salário da dupla certamente impedia contratações que decidissem em campo; e ambos decidiam só fora dele: tudo ia bem institucionalmente. Mas o desempenho, aquele que decide jogo e leva título, nadica de nada.

A imagem da dupla ainda piorou depois, quando eles se recusaram a jogar a próxima partida, cada qual usando um conjunto de argumentos. Astros de primeira grandeza não admitem a crítica, a ira da torcida, a cobrança. Estavam alí basicamente para serem incensados o tempo todo, e viver nababescamente debaixo da marca forte chamada Corinthians.

Provavelmente achavam que a fama dos tempos de outrora os sustentaria sob quaisquer circunstâncias. Não deu. Tenho cá com meus botões que a saída de Roberto Carlos – na forma – foi a saída honrosa encontrada pelo Clube para se desfazer de um jogador com o qual mal podia contar. O salário dele deve pagar pelo menos uns dois craques que resolvem, com a metade do trabalho.

Claro que os astros ajudaram na capitalização. Atrairam patrocinadores, mais torcedores, etc e tal. Mas se no meio do caminho tudo isso não se traduzir em resultado, de nada adianta. E não adiantou. RC diz que está indo para Russia (um frio lascado, idioma difícil....) com “excelente proposta". Evidentemente ele não diria o contrário.

Acho também que a saída de RC, somada à reação da torcida acelerou os planos do Fenômeno, cujo interesse pelo jogo dentro de campo já é pequeno há muito tempo. Ele é empresário, dos bons, não está a fim de privar-se dos almoços fartos com os amigos nos Jardins, e tampouco de ficar sendo cobrado pela torcida. Foi-se o tempo. O jeito foi se aposentar, enquanto é tempo, porque já estava passando da hora.

Resumo da ópera: tudo ia tão bem, até que o (frágil) esquema mercadológico ruiu. Para todos: jogadores e Clube. Produto é produto, e se ele não funciona, não há estratégia que o sustente na prateleira.