Páginas

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ADOTEI MINHA MARCA DE CERVEJA

Eu não sou muito de cerveja; pelo menos não daquelas pessoas que chegam em casa cansadas e pegam uma latinha na geladeira. Mas aprendi, com um publicitário, que cerveja é uma bebida gregária e, assim, encaro perfeitamente uma rodada com amigos. Normalmente deixo a marca a cargo da minha companhia da ocasião, justamente porque não entendo muito da matéria.

Mas a partir de hoje já tenho uma marca e vou pedi-la sempre, independentemente do gosto da companhia da ocasião. Adotei a marca sem experimentar um só golinho: Stella Artois. O motivo não tem nada a ver com gosto, temperatura, cor, malte etc. Foi o filme comercial da Stella Artois que me conquistou, para sempre.

Não sei quem ou onde foi produzido, mas, por favor, se houver um publicitário entre os leitores, me ajudem para os devidos créditos. O que tem esse filme de tão especial que me fez adotar um produto com o qual nem tenho tanta intimidade? A resposta é o que ele não tem: bunda! Nem seios siliconados à mostra, que colocam a mulher como decoração de cenário, geralmente imbecilizada, como acontece na maioria dos comerciais de cerveja.

O filme não tem uma fala sequer. São dois homens num trem, um à frente e outro atrás de um balcão de bar. Um tenta tirar um copo de cerveja de uma bomba para o hipotético cliente, mas o balanço do trem o impede de fazê-lo com toda a reverência que o produto exige. Depois de algumas tentativas, ele sai do balcão, em seguida o balanço do trem cessa e ele finalmente consegue servir a cerveja com a devida reverência que ela exige (remete a um produto de excelente qualidade). O filme fecha num cenário externo – uma ponte sobre uma praia maravilhosa – onde uma parte do trem segue e o último vagão permanece parado, desconectado dos demais, no meio da ponte (o sujeito do bar parou o trem para servir a cerveja).

Sem uma bunda, um peito pelado, uma mulher vulgarizada. Deu o recado. Valorizou a marca e ganhou a minha preferência. Parabéns à agência, a toda ficha técnica de criativos e profissionais que participaram da campanha. Quando eu descobrir, volto aqui para os devidos créditos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

AS LIÇÕES DO CHILE

Eu tentei acompanhar o resgate dos 33, mas não tenho o preparo, a infra e a energia do presidente Sebastián Piñera, do Chile. Vi o principal. No meio desse tempo, li pela internet inúmeras opiniões sobre a participação do presidente, sobretudo nas últimas 30 horas de resgate. Oportunismo foi um dos adjetivos que correram as redes sociais (twitter, facebook etc). Obviamente houve, mas, convenhamos, o sujeito transformou o Chile. Se fosse uma marca Ponto Com, hoje a Nasdaq elevaria sua cotação a trilhões.

Sebastián Piñera assumiu a responsabilidade que lhe é atribuída pelo cargo. Aproveitou a deixa e mostrou ao mundo, aos estadistas, aos empresários, executivos e grupos organizados o valor da palavra “liderança”. Aliás, atributo em falta em vários setores sociais em todo mundo, inclusive no Brasil, e talvez isso provoque certo incômodo.

É lugar comum o discurso fácil de grandes empresários propalarem sobre a importância de reter talentos, reconhecê-los, bla-bla-bla. Exercitar o mantra é mais difícil.

Por algumas vezes durante os vários momentos que tive oportunidade de assistir aos resgates, me veio à mente um fato que ficou marcado na minha mente e pautou, desde então, muitas ações que adotei como profissional de comunicação. Certa vez o teto de um dos supermercados da rede Pão de Açúcar ruiu. À época, quem dirigia o departamento de Relações Públicas da organização era Vera Giangrande, que morreu aos 69 anos, em 2000. Era seu papel, portanto, dirigir-se ao local do acidente e assim o fez. Vera era uma mulher elegante, firme, mas não perdia o olhar doce e fala ponderada. São atributos incomuns em mulheres em posição de poder.

Quando chegou ao local do acidente, ela foi imediatamente rodeada por repórteres, ávidos por uma declaração em nome da empresa. Com a serenidade de sempre, a delicadeza que lhe era inerente e a firmeza de uma rainha, disse a todos: “.... sei que todos vocês estão trabalhando e precisam de informações. Mas, primeiro, eu preciso saber como estão meus colegas e todas as pessoas feridas no acidente. Depois disso, eu volto aqui e conto a vocês”. Não foi exatamente com essas palavras, faz muito tempo, e eu vi a cena pela TV. Mas em síntese o contexto foi esse.

A atitude do presidente do Chile foi semelhante, respeitadas aqui as condições e proporções de cada acontecimento. Desde as primeiras horas depois da comunicação do acidente, ele tomou as rédeas da situação, sabendo que mina é da iniciativa privada e não tinha condições financeiras de assumir uma operação dessas proporções. Os primeiros dados dão conta de que o custo da operação foi estimado em 22 milhões de dólares. Previsivelmente, por conta dessas condições, a Companhia demorou a comunicar oficialmente o acidente, fato que poderia ter custado a vida de todos os mineiros e retardou ainda mais o período em que eles ficaram completa e totalmente sem comunicação com o mundo exterior. Covardia, descaso e negligência em nome do dinheiro. Lamentável, mas comum no mundo corporativo.

Terminado o resgate, certamente alguns cineastas vão transformar a tragédia em filme, a maioria dos mineiros deve voltar à vida aos poucos e, se eu militasse na área acadêmica, criaria uma disciplina nos cursos de administração, marketing e comunicação. A matéria chamar-se-ia “As lições do Chile”.

Mas por que uma disciplina e não uma aula, uma palestra? Porque seria muito pouco. Se alguém se dispuser a reunir todo material publicado, pesquisar a fundo, entrevistar envolvidos, familiares e os próprios mineiros, saberá que um curso será mais adequado. O que houve naquele pedaço do Deserto de Atacama representa muitas, mas muitas lições importantes para o mundo corporativo: trabalho em equipe, solidariedade, liderança, realização e, finalmente, celebração. Tudo ao mesmo tempo tudo junto, com perdão pelo trocadilho. Ao final do resgate, Piñera resgatou outros valores, para qualificar o grupo: companheirismo, coragem e lealdade. Atributos em franca extinção em vários setores.

Não conheço tão profundamente quanto deveria a economia, a sociedade e a história chilena. Mas sei, pelo menos, que eles estão muito à frente do Brasil, em vários aspectos. E talvez a trajetória de Piñera como empresário de sucesso no Chile explique sua participação no histórico resgate. Ele sabia exatamente qual a extensão da sua responsabilidade. E sabia que poderia tirar dividendos dali, se investisse numa operação vitoriosa. Não hesitou em aceitar ajuda externa e dividir os louros da vitória. Enfrentou esse desafio como deve ter enfrentado centenas de desafios em sua trajetória como empresário (ele tem participação em linhas aéreas, emissoras de Tv etc).

Piñera tirou, sim, dividendos políticos importantes da situação. Mas ele foi um grande líder. E não nos esqueçamos de que ele não tem tanta intimidade com o cargo. Tornou-se presidente pouco depois da tragédia provocada pelo terremoto que arrebatou parte do País no começo do ano.

Há de se destacar, também, o papel da esposa do presidente, que permaneceu com ele, ininterruptamente. Ambos não arredaram pé da boca do poço aberto que trouxe de volta à vida os 33 mineiros. Eles estavam, sim, cumprindo uma missão oficial. Mas a cumpriram com maestria. E, diferentemente da maioria de seus pares mundo afora, nela não vi um único traço de arrogância. Vi emoção, empenho, dedicação absoluta, motivação. Se fosse por pura vaidade e apenas oportunismo a primeira dama não estaria por mais de 30 horas com a mesma jaqueta. Sim, mulher observa esses detalhes. Ela sabia mais do que ninguém que as imagens corriam mundo. Retocou o batom, sim, mas com todo direito. Ficou ali, com capacete na cabeça quase 30 horas. Poucos líderes conduziram uma crise tão magistralmente. Mostrando a cara, se expondo, apoiando, liderando na verdadeira acepção da palavra. Trouxe a tona não só 33 mineiros soterrados, mas conseguiu aquilo que perseguem todos os lideres do mundo, políticos e empresariais: preservar, valorizar, exortar e ampliar positivamente a sua melhor marca.

Na disciplina que eu criaria para aspirantes do mundo corporativo, eu destacaria uma aula em particular: a força de um líder. Os bastidores dessa história só o tempo contará. Mas por enquanto, Piñera mostrou ao mundo como conduzir uma crise, e como valorizar a marca diante dela.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O FATOR SURPRESA DESSE PLEITO ELEITORAL E ELEITOREIRO

Cada eleição é uma grande aventura, cujo resultado vem sempre precedido de alguma surpresa. Desta vez o fator surpresa foram as pesquisas. A pergunta que não quer calar é: onde erraram? Quando erraram? Talvez a maior delas, antes mesmo da possibilidade de um segundo turno na eleição a presidente, foi Aloysio Nunes ao Senado, por São Paulo. Durante toda campanha ele oscilava nos terceiro ou quarto lugares. Netinho, que ficou fora do pleito graças a intervenção divina, chegou a ser apontado à frente da candidata eleita Marta Suplicy, desde início em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos. Acabou a luta em segundo lugar, eleita senadora.

Quem errou? O eleitor escondeu o jogo? As pesquisas fora mal conduzidas? Foram mal trabalhadas? Foram manipuladas? Provavelmente nunca saberemos as respostas. É do jogo. Particularmente fiquei mais feliz com a derrota do Netinho do que com a possível vitória de Serra. E isso não significa que votarei em Dilma. Votei em branco no primeiro turno e votarei no Serra no segundo. Não porque ele seja o melhor. Mas porque não acredito na capacidade legítima de Dilma. Acho que ela é mais arrogante e truculenta que o Serra. Acho também que ela não conseguirá controlar a insanidade dos aloprados do PT, e tampouco a ambição a qualquer preço pelo poder do partido.

Dilma é desarticulada; não consegue terminar uma frase. Não respeita seus pares e não hesita em apontar o dedo ao nariz de qualquer um que se oponha às suas opiniões. Não está preparada nem para o projeto político do PT e tampouco para o país que vai, eventualmente, enfrentar. Portanto, me leva a crer que será teleguiada ou por Lula, ou por Dirceu (seu amigo de armas) ou por qualquer outro que tenha afinidades com a turma vermelha.

Mas Serra também não desce tão redondo. Usou na campanha os atributos que sempre lhe atribuíram: centralizador e arrogante. Levou a cabo uma campanha pífia, sem explicar a que veio. Deliberadamente desconsiderou o legado do seu partido: o Plano Real. Desconsiderou também a importância de gestões descentralizadas, como por exemplo explicar à população quantos empregos foram gerados depois das privatizações. Quanto as empresas privatizadas cresceram, se modernizaram e evoluíram. A Vale seria um exemplo perolar, mas ninguém usou. Subestimam o eleitor por considerar o tema árido?

Houve erros no passado? Obviamente que sim. Que tal assumi-los com o compromisso de fazer mais e melhor? O eleitor quer gente de verdade no poder e não super-heróis. Apesar de ter eleito oportunistas como Tiriricas e Romários. Mas num país dessas proporções, não surpreende.

Por que as pesquisas erraram? Ou erraram os candidatos?

A corrida agora é atrás de Marina. Mais uma espuma eleitoral que pode se transformar no Lula de saias dentro de alguns anos. Inebriados com o tema fácil da sustentabilidade, os jornalistas pouco exploraram o sectarismo da candidata. Esqueceram do apoio quase incondicional que ela mantém ao MST. Convenientemente se esqueceram também do inchaço que ela provocou em seu gabinete quando assumiu o Ministério do Meio Ambiente. Encheu de correligionários, irmãos de fé e figuras do gênero. Marina, como Serra e o PT não têm projeto político para o Brasil. Eles têm projetos pessoais. Isso não me interessa.