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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

HOPE ENSINA. (O QUE?)

Título da Campanha: HOPE ENSINA. O filme pode ser assistido clicando no título do post anterior.

Cenário: uma parede branca atrás da modelo mais bem paga do mundo, que vende até coco em latinha, porque as pesquisas apontam que todas as mulheres queriam ser Gisele Bündchen. 

Cena 1: Gisele Bündchen, vestida com roupas comuns, comunica ao marido que estourou o cartão de crédito. Entra um carimbo (ensinando), com a inscrição ERRADO.

Cena 2: Gisele Bündchen, apenas de calcinha e sutiã, com a mesma frase, gestos sensuais acentuados. Entra carimbo (ensinando) , com a inscrição  CERTO

PROPAGANDA – CONJUNTO DE ATOS QUE TEM A FINALIDADE DE PROPAGAR UMA IDEIA, OPINIÃO OU DOUTRINA.
O que HOPE ENSINA? (título da campanha)

Que tirando a roupa a mulher pode tirar vantagem financeira do marido, parceiro ou parceira (o amor, a quem a modelo se refere no filme comercial). “Você é brasileira, use seu charme” é a assinatura da campanha. Use seu charme para que? Seduzir? Encantar? Conquistar? Não, use seu charme para tirar vantagem financeira do seu parceiro ou parceira afetivo.
Cerca de 90% das pessoas (mulheres inclusive) que se manifestaram sobre o post anterior acharam exagero e criticaram a posição defendida pelo BLOG. A maioria criticou a posição do governo. Portanto, a dúvida é: criticaram um governo inepto, que não dá a mínima solução para as mulheres violentadas (moral e fisicamente) diariamente; para as mães que não podem trabalhar por não terem onde deixar seus filhos etc? Ou realmente a mensagem (indireta e subliminar) induzindo a usar a sedução para proveito financeiro é normal?

Respeito qualquer opinião, desde que assumidamente se joguem as cartas na mesa. Assumir como normal essa posição, achando que tudo não passa de uma brincadeirinha é assumir e aceitar como legítima a proliferação cada vez maior das marias-chuteiras; da relação por interesse financeiro; da dominação do mais forte pelo mais fraco (física ou financeiramente).
Brincadeirinha é usar a lingerie para seduzir, encantar e conquistar. Evidentemente, são recursos legítimos e recomendáveis em qualquer situação a dois, de romance ou não, mas de “conquista” física ou emocional. O resto é prostituição. Nada contra, mas que se assuma como tal. Eufemismo e Hipocrisia é aceitar como "brincaderinha".

Na falta de competência para criar uma peça publicitária, o setor tem usado o já famozinho "buzz". Boa ou ruim, com efeito ou não, falem bem ou falem mal, mas falem de mim, é o recurso para driblar cliente, consumidores e desavisados.

EM TEMPO 1: dispenso comentários fora do critério técnico da propaganda, como por exemplo, me chamando de mal-amada. Para evitar, aviso que não sou; mas uso a sedução como elemento lúdico da relação e não para conseguir vantagem financeira.

EM TEMPO 2: A campanha fez muito bem à agência, que foi parar nas páginas do Jornal ingles "Guardian", que fez uma análise muito interessante sobre a pérola da propaganda brasileira. Um trechinho: "Assista a Gisele mostrando claramente que uma mulher inteligente pode fazer para obter qualquer coisa de um homem, comportando-se de uma forma sexy. Mostra uma espécie de homem das cavernas, e que as mulheres inteligentes sabem muito bem como tirar proveito disto" (tradução livre)

Leia matéria no ingles Guardian:  http://migre.me/5OkB7 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

HOPE ENSINA MULHER A SER PUTA

O website da Hope, fabricante de lingerie, não informa quem foi a agência de propaganda que criou a campanha "Hope Ensina". Mas tudo indica que o criativo foi um homem. Duvido que uma mulher, publicitária, teria coragem de criar, aprovar com o cliente e veicular filmes que colocam a mulher em posição tão vulgar, como se fosse uma prostituta. (Clique no título para ver o filme). GiseleBündchen, como ganha alguns milhões pra protagonizar a campanha, topou a putaria, sem chiar.

A personagem entra em cena de roupa, dizendo ao marido algo que ela sabe que ele não vai gostar. Na sequência, mostra um carimbo com a inscrição "Errado". Corta, entra a próxima cena, Gisele só de calcinha e sutiã, dizendo a mesma frase. FNa sequência, o mesmo carimbo, com a inscrição "Certo". Uma campanha, digamos, didática.  

A campanha (tem vários filmes na mesma linha) é deprimente, barata, rasa, porca e apela para a solução mais fácil. A mulher, a mãe, e a irmã do criativo e do cliente devem usar os mesmos expedientes em casa, o que torna tudo isso tão normal para ele.

Uma campanha desse nível provavelmente não teve pesquisa quali nem quanti, só a imaginação fraca do criativo e o desrespeito do cliente que aprovou uma palhaçada dessa.

Colocar a mulher como puta para vender produtos é prática relativamente comum na propaganda. Mas essa campanha da Hope superou todas as expectativas. Mau gosto, fraca, sem qualquer traço criativo e sexista, a campanha é uma afronta a todas as mulheres que amadureceram, estudaram, pagam as próprias calcinhas e têm no homem apenas um companheiro de viagem. Esperar alguma coisa da Gisele Bündchen é chover no molhado, a considerar as besteiras homéricas que ela fala, sempre que abre a boca. Mas não precisava ir tão longe.

Da agência que apoiou uma criação dessa natureza (vou procurar quem foi e depois eu conto aqui) é de se lamentar. Fazer da propaganda um negócio tão lamentável, compromete toda uma categoria que está conseguindo sobreviver a duras penas num mercado tão competitivo, com qualidade, respeito ao consumidor e ao cliente.

Ao cliente, do qual eu quero distância e jamais comprarei nem um elástico, proponho uma reflexão. O dono da Hope, se tiver uma esposa, deve estar acostumado a esse tipo de experiência e aplaudiu, comparando suas mulheres às demais consumidoras da marca. Mas a ele eu digo: prostituta é a sua empresa.

O que prejudicou muito a discussão foi o fato de o governo ter pedido a suspenção da campanha. via de regra, tudo que o governo faz e fala é discutível, e portanto, a campanha ganhou ares de "bacaninha".

Em tempo: a agência "criativa" é a Giovanni+DraftFCB. A campanha ganhou manifestação contrária da Secretária de Políticas para Mulheres do Governo Federal. Em nota da empresa à imprensa, assinada por uma mulher (Sandra Chayo, diretora), explica que "os exemplos nunca tiveram a intenção de parecer sexistas, mas sim, cotidianos de um casal", reforçando que a mensagem não passa de "piadas do cotidiano". Ah!! então tá. Será que essa moça só pede o cartão de crédito pro marido quando está de calcinha e sutiã?

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

ASSESSORIA DE IMPRENSA DO NEYMAR DORMIU NA COLETIVA

(clique no título para assistir a coletiva)

Assessor de imprensa é o profissional destacado para promover o relacionamento entre as fontes e a imprensa. Aparentemente é uma atividade "fácil". Aparentemente. Mas a atividade vai muito além do ato de escrever um release bonitinho, atender a demanda por entrevistas ou de oferecer pautas atraentes nas redações.

Escrever os releases, oferecer as pautas e cuidar do clipping é só o básico. A diferença está na atitude, na observação vigilante do cenário e como cada assessor se coloca diante dele. O bom assessor tem que saber se posicionar com firmeza, técnica e sabedoria em situações críticas. Não foi exatamente o que aconteceu durante entrevista coletiva concedida pelo atleta Neymar, dia 20 de setembro.

A entrevista teve ares de stand-up comedy. Ninguém tinha o que perguntar, senão sobre a possível transferência do craque para times estrangeiros. As perguntas eram rigorisamente idênticas, uma atrás da outra. A tentativa -- quase infantil -- dos repórteres de esgotar o entrevistado para arrancar a resposta desejada apenas contribuiu para tornar a situação mais ridícula (ver repórteres babando ovo em cima de celebridades é sempre ridículo). Todos alí sabiam que Neymar não faria nenhuma revelação bombástica. Ele é treinado, preparado e sua transferência não seria "arrancada" naquelas circunstãncias. Todos alí sabiam disso.

Neymar estava estressado, e demonstrava isso na linguagem corporal. Se movimentava excessivamente, emitia risos nervosos reiteradamente. Alguns repórteres, na tentativa de parecer mais inteligente, mudavam as palavras, mas a pergunta era sempre a mesma, durante longos 13 minutos.

Foi preciso que a própria fonte -- Neymar -- desse a senha para a intervenção do assessor, lembrando que nenhum repórter tinha perguntado sobre o clássico (Corinthians x Santos), aliás, a pauta da coletiva. Um minuto depois o assessor acordou do seu estado de letargia e lembrou aos repórteres sobre a pauta.

Claro que é preciso ter peito e senioridade para interromper uma coletiva e dizer aos repórteres: senhores, essa pergunta já foi respondida, se não houver qualquer outra, damos por enxerrada a coleitva, ok?

Porém, se o sujeito não tiver senioridade e confiança para adotar uma atitude dessa natureza, melhor ele procurar outra profissão. Na maioria das vezes isso acontece por inépcia ou medo da reação dos repórteres. Por qualquer um dos dois motivos, o cara é incompetente e permitiu um desconforto desnecessário no atleta. A imprensa, do outro lado da mesz, foi apenas ridícula. Expor um cliente a essas condições é, no mínimo, desleal e covarde.