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sábado, 2 de julho de 2011

GERENCIAMENTO DE CRISE: MENOS É MAIS

Semana passada foi recheada de crises: política e corporativa. Começou com Sergio Cabral, governador do RJ. Uma tragédia pessoal expôs relações no mínimo duvidosas entre o público e privado. Isto logo após um confronto – desnecessário – com a instituição mais admirada do Estado: os Bombeiros (já comentamos aqui os aapectos do episódio). Cabral é tão inábil que as crises em seu governo se encavalam.

Depois da tragédia que matou a namorada de seu filho, a primeira providência do governador foi recolher os flaps. Pediu uma semana de licença para “se recompor”. E nesse caso não era só da tragédia pessoal. As condições do acidente a que esteve envolvido trouxe à tona esquemas nada republicanos. As denúncias eram muito graves. A condução dos fatos faz supor que a equipe de governo foi buscar profissionais de comunicação com viés em gestão de crise. Mas pelo jeitão da coisa, erraram na dose.

Durante sua ausência, os boatos fervilharam. Denúncias de favorecimento, renúncia fiscal envolvendo somas bilionárias, que beneficiaram de motéis a padarias. Recluso, e provavelmente reunido com auxiliares para traçar estratégias que pudessem neutralizar a onda crescente de toda sorte de denúncias contra ele, Cabral apareceu no domingo, mostrando exatamente o que faz de melhor diante de um microfone: bobagem.

A equipe de gestão de crise deve ter se empolgado, carregou nas tintas e recomendou o remédio errado: um instrumento que se usa para prevenir crises e não quando ela já está instalada. Com pompas e circunstâncias ele reinventou a instauração imediata de um código de ética. Como se não bastasse, Cabral anunciou o fato como se tivesse descoberto a pólvora.

O Código de Ética é essencial em qualquer programa de comunicação, quer seja no governo ou na iniciativa privada. Ele traz a linha mestra de um conjunto de atitudes que devem refletir os atributos da marca (tangíveis e intangíveis): do produto ou do governo, seus valores, crenças etc. Quando implantado e utilizado corretamente, previne crises porque organiza as informações, confere parâmetros do que pode, e do que não pode.

Durante uma crise – grave – instalar o código de ética como se ele tivesse o poder de apagar todas as atitudes suspeitas do governador, e anunciar isto publicamente como a descoberta do século foi de uma estupidez atroz do governador. Pior que isso é o fato de o governo já ter um código de ética. Se Cabral não o cumpria era ou por ignorância ou por arrogâncial. Diante dos fatos, por ambos os motivos. Não convenceu ninguém, foi duramente criticado, e a desastrada iniciativa contribuiu para mais um desgaste na já capenga imagem e reputação do governador.

Soma-se a estas trapalhadas a ingerência truculenta de seus protegidos, como por exemplo, as manifestações de Eike batista na imprensa, dias depois do acidente. Com muita arrogância, repetia ad-nauseum que empresta seu jatinho a quem bem entende, porque é dele blablabla. Não por acaso, dias depois artigos nos principais jornais analtecendo, endeusando e louvando as atividades e ousadias empresariais do amigo do governador, pegaram muito mal para a reputação de Cabral.

A ingerência de Eike Batista na crise do governador teve seu ponto máximo no sábado, quando o empresário elogiou a iniciativa do governador, sobre a criação do Código de Ética. Foi praticamente uma piada pronta e Cabral poderia ter nos poupado desse mau gosto.

Concomitantemente à crise de Cabral, rolava a crise instalada pelas ambições desenfreadas do senhor Abílio Diniz, que, longe dos seus sócios , articulava união com o Carrefour, evidentemente para fugir da cláusula que ele quer evitar, no próximo ano, que entrega o controle de sua empresa aos franceses.

E o que nós temos a ver com os negócios do senhor Diniz? Nada, se a transação não estivesse sendo costurada para ser patrocinada pelo BNDES, com o meu, o seu, o nosso dinheirinho.

Diante da repercussão dos fatos – negativa, é claro – o governo recuou e mandou dizer aos interessados que só libera a grana se o sócio de Diniz concordar. Tudo leva a crer que Diniz está tentando quebrar um acordo. Do pontode vista de comunicação, a semana foi uma aula. O sócio de Diniz, o Casino, publicou informe publicitário descendo o porrete no empresário brasileiro. Dia seguinte foi a vez do próprio Diniz publicar e, como se não bastasse, desastrosamente alguém de sua equipe teve a ideia de oferecê-lo nada menos que ao Jornal Nacional.

Em vez de falar por sí, foi para a frente das câmeras defender quem? O BNDES. Parecia que ele próprio dirigia o órgão, tamanho o conforto com que falava em nome do banco de fomento do governo. Por excesso de confiança e apadrinhamento, Diniz tem atraido a antipatia de vários setores sociais. E isso não é nada bom para ele, uma vez que o governo está tentando, a duras penas, imprimir ares de retidão em Brasilia.

Apenas para ficar nesses dois exemplos, percebe-se que o gerador, detonador e o oxigênio das crises é a absoluta inépcia com que os homens públicos conduzem seus negócios. A absoluta leniência com que conduzem questões públicas, desconsiderando interesses da sociedade, opinião pública, etc. Agem como se donos fossem do cargo e não como deveriam tratá-lo: meros signatários temporários. A simples observãncia desse detalhe já evitaria um trabalhão ao governador do RJ, que agora deve estar queimando as pestanas na construção do seu “Código de Ética”, como se dele precisasse para saber que aceitar benesses dos empresários que o apoiam é, nomínimo, indecente.

2 comentários:

nelsontucci disse...

Criar um CÓDIGO de ÉTICA já é de uma inutilidade que eu não consigo entender.

Ética aprende-se no berço. Se papai ensinar que abocanhar a chupeta alheia é feio, cada qual cuidará da própria chupeta na vida adulta.

Mamãe tb costuma ensinar que não se deve ´garfar´ a caneta alheia. Se a criança aprende isso, quando adulta só assinará seus atos com a própria caneta, sem se valer de objetos e cousas cedidos por outrem.

E isto vale para a escova de dentes, um carro nacional ou um jipe importado.

Se bem espetinhos, Huguinho, Zezinho e Luisinho não precisarão ler um Código de Ética, já adultos e barbados, pra aprender que é feio, MUITO FEIO ser amigo do alheio.

Esse conceito basta de per sí. Mas quero acrescentar: a autora deste post, Silvana Destro, de novo matou a pau (não o Huguinho, o Zezinho ou o Luisinho) a questão como, aliás, o faz com sabedoria. Erro primário esse "lançamento" no pós horror...

Quando é que esse povo vai a aprender que a comunicação é coisa séria e não dá para tratá-la com arroubos amadorísticos ?

Senhores, Senhoras e Senhoritas, cuidem de seus celulares, joias e carteiras. E tenham todos um BOM DIA !

Carla Santos disse...

Ética, honestidade, educação vêm de casa. Mamãe e papai ensinam. Entretanto, como as famílias apresentam códigos de condutas peculiares, devemos sim, ter bem estabelecido o que esperamos de nossos funcionários, sejam eles do serviço público ou privado. Daí a importância de se ter um código de ética claro e objetivo, que seja distribuído a cada novo colaborador que chega à empresa. Um código pré-estabelecido. NUNCA "criado" durante uma crise provocada por falta de vergonha e de honestidade. Fizeram feio.