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quarta-feira, 13 de julho de 2011

A CRISE CHAMADA PÃO DE AÇÚCAR


Abílio Diniz, explicando à imprensa
o inexplicável
Pouquíssimos saberão o que se passou nas salas de guerra montadas para operar a crise instalada no Grupo Pão de Açúcar, depois da notícia sobre uma possível (agora impossível) fusão com Carrefour. O único fato concreto é que o peixe morreu pela boca: Abilio Diniz usou as armas erradas, em que pese todo seu esforço para permanecer no controle do negócio que seu pai começou, décadas atrás.

Um erro de avaliação deflagrou o fracasso de toda operação montada por Diniz. Partindo do princípio que seu sócio francês cederia, toda uma estratégia de comunicação foi montada para “sensibilizar” vários setores da sociedade brasileira, e assim pressionar o sócio a concordar com a fusão. Ao longo da semana, um erro potencializou outro erro, até que hoje  todos os jornais deram por encerrada a negociação.

O resultado dessa crise é uma aula para toda classe de empresários, empreendedores, executivos e profissionais de comunicação que operam na gestão de crise. A impressão que fica é que Diniz foi para o campo de batalha pelo tudo ou nada, sem uma avaliação de todos os cenários possíveis (excesso de confiança). Jogou todos os esforços no único cenário que lhe interessava: a fusão, que lhe permitiria manter o controle do negócio.

Os que o assessoravam entraram nesse barco ou porque Abílio não lhes dera alternativa senão concordar, ou por uma nefasta miopia do cenário socioeconômico. Se alguém lá de dentro se insurgiu contra sua estratégia, nunca saberemos.
Abílio Diniz entrou nessa briga com apenas um trunfo: o apoio do BNDES (embora tenha dito que poderia fazer o negócio com qualquer Banco, estava blefando). Quando a opinião pública caiu de pau contra a operação (essa possibilidade também foi desconsiderada ou mal avaliada na sala de guerra), e o sócio francês se rebelou publicamente, Diniz deu início à estratégia suicida: convocou vários jornalistas, individualmente, para explicar a sua versão, incluindo no mailing o Jornal Nacional.

Como os argumentos eram muito fracos (fato também subdimensionado por toda equipe de Abílio), qualquer possibilidade de sucesso começou a perder força e colocar Diniz numa posição muito desconfortável perante a opinião pública e a comunidade de negócios (não surgiu ninguém defendendo a operação, a não ser membros da própria equipe). A entrevista ao Jornal Nacional foi um fiasco: no desespero, falou em nome do BNDES, como se o banco lhe pertencesse (cadê a assessoria, minha gente???).
Nessa altura do campeonato, não restava ao BNDES outra saída, senão a porta pela qual nunca deveria ter entrado.

Toda movimentação provocada pelo desespero de Diniz (na crise esse componente é um perigo) deu fôlego ao sócio traído,  que se manifestou publicamente pelos jornais, comprou um lote bilionário de ações do Grupo, reforçando sua posição na sociedade, e organizou o QG.
Abílio perdeu. Será que ninguém na equipe se vestiu de advogado do diabo, e desenhou outros cenários? Ou ele desconsiderou? Deve ser muito difícil emitir uma opinião contrária à dele. Sobretudo numa sala de guerra. Provavelmente, na próxima vez, ele usará um pouco mais os ouvidos, menos a prepotência e um pouco mais a humildade.

2 comentários:

Raquel M.B.G. disse...

Silvana, ótimo texto. Creio que assessorar o Sr. Abílio não deva ser tarefa das mais fáceis. O fato comprova que um argumento fraco não consegue ser "maquiado" em grande oportunidade assim tão facilmente...Ótimo case de estudo, rs. abraços, Raquel Barbosa

darci prass disse...

Na verdade, Abilio Diniz tentou, com um golpe de mão, uma campanha de relações públicas (medíocre, é certo), e um suposto apoio do BNDES (com base no excelente relacionamento que cultivou com a ainda candidata Dilma), mudar um contrato assinado em 2005, que garante o controle acionário da empresa por parte do Casino, que, a propósito, pagou por isto e quer e vai receber. Não se muda contratos no grito, como o Abílio Diniz acabou de descobrir. O Grupo Casino se ateve apenas aos contratos assinados. Nada mais. Uma boa lição para quem acha que contratos são para ficar na gaveta.