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domingo, 6 de maio de 2012

A MEDIDA DA EXPOSIÇÃO


Alex Atala é o chef de cozinha mais badalado do País. Não sem motivo; o sujeito é bom naquilo que se propôs fazer: comida. Seus restaurantes são ótimos e seu nome não passa uma semana sem ser incensado por um veículo de comunicação. Atala virou uma marca; e o DOM, um dos restaurantes capitaneados por ele, acaba de subir para a quarta posição entre os melhores do mundo. Justíssimo.
O problema do sucesso é quando se perde a mão na exposição. E foi justamente isso que aconteceu neste fim de semana, durante a Virada Cultural, em São Paulo. Atala inventou de participar do evento, com 500 pratos da galinhada grátis.
Atala chegou num ponto que não pode mais se dar ao luxo de decidir tudo à sua volta sozinho. Provavelmente tem um bom contador, igualmente para um gestor de seus negócios, um tremendo gerente de banco e por aí vai. Certamente ele deve considerar e executar grande parte da orientação de todos esses profissionais à sua volta; afinal, seu negócio é comida. Do contrário, seu negócio está em jogo.
Mas cumprindo o roteiro usado pela maioria dos empresários, não seguiu conselhos de seu assessor de comunicação e se esse conselho não veio, é porque está mal assistido nessa área: ele jamais poderia ter participado desse evento, por um motivo muito simples: além de não poder atendê-lo, o público-alvo dessa “marca” chamada Alex Atala não tem nenhum alinhamento estratégico com o evento. O fato de fazer comida brasileira não o faz popular, ponto. O restaurante é caro, sim; e também por isso a comida é tão boa. Qualidade tem preço.
Por analogia, o resultado foi muito próximo do mico que seria a Louis Vuitton montar um espaço para suas bolsas e acessórios no meio da Virada Cultural. Ninguém da equipe do Atala teve a pachorra de parar para avaliar as dimensões que esse evento ganhou nas últimas edições, e programou a distribuição, gratuita, de 500 pratos, justamente dias depois de seu principal restaurante – o  D.O.M – ter  sido classificado como o quarto melhor do mundo, no ranking da revista inglesa Restaurant.
Faltou planejamento, faltou uma voz firme para vetar essa participação e faltou bom senso. Embora seja um dos mais democráticos eventos da cidade, a Virada Cultural não representa exatamente o público que come com regularidade no DOM. Claro que a intenção foi das melhores – prestigiar a comida nacional. Mas de boas intenções o inferno está lotado e o amadorismo fez Atala sair pelos fundos. A fila formada para pegar a senha de acesso ao prato chegou a três quilômetros. No fim, claro, virou a maior bagunça e comeu galinhada quem conseguiu chegar perto da barraca. O resto foi mais do mesmo: um espetáculo deprimente, provocado pela falta de planejamento e bom senso.
Exposição tem limite; requer planejamento, cérebros pensantes que avaliam todas as variáveis e, sobretudo, o alinhamento da marca com o público-alvo que se pretende.
Por isso eu aboli o termo “assessoria de imprensa” do meu vocabulário. Ou o sujeito pensa a comunicação do cliente como um todo, ou vai continuar enganando o cliente (normalmente um finge que paga outro finge que trabalha; o que não deve ser o caso do Atal, evidentemente).
Dias depois de ter seu restaurante subindo de 7º para 4º lugar, Atala não precisava desse estresse todo. Francamente, mais um tiro no pé. E tudo por falta de planejamento. 

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