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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O LIMITE DA (SUPER) EXPOSIÇÃO

Evidentemente eu não tolero qualquer viés de discussão que leve ao limite da liberdade de imprensa. Penso que as pessoas que defendem essa tese o fazem por total incapacidade de pensar em algo mais últil que justifique seus salários, e o tema os faz permanecer no centro das atenções – a meu ver uma espécie de psicopatia.

Esclarecido esse ponto, quero colocar em pauta a “qualidade” da notícia. Algumas aulas da faculdade de jornalismo estimulam o aluno a enxergar o que efetivamente é ou não uma notícia. Mas a velocidade dos fatos e as dificuldades estruturais das redações (pouca gente, arrogância e muitas vezes incompetência) tem distorcido a finalidade do jornalismo em alguns veículos: informar o leitor. Como eu leio de 3 a 4 jornais todo dia e muitas revistas por semana, concluí que essa premissa tem sido confundida com “publica essa matéria porque essa pessoa é legal”, ou “publica porque eu adoro o jeitinho dessa pessoa”, ou “publica porque todo mundo gosta”.

Funciona assim: as redações elegem um personagem e publicam qualquer besteira que o sujeito decla (sempre o mesmo). Às vezes muitos veículos ao mesmo tempo, com o mesmo personagem, forçando a barra para impor uma tendência de pensamento, ações etc. Tivemos a época da Xuxa e todas as respirações de sua filhinha Sasha, e todo esforço mímico da apresentadora em parecer um ser inanimado, uma boneca de louça assexuada e eterna viúva de Airton Sena (tão conveniente esse clichê !!).

Em menor proporção, mas não menos entediante, tivemos a era Surey, filhinha de Tom Cruser. O site globo.com fazia uma matéria sempre que a menina trocava de roupa, sorria, cortava a franja ou respirava.

Cá pra nós: que importância histórica, contemporânea, econômica, cultural ou seja lá o que for, tem para nós, brasileiros (imagino em nível mundial,mas tudo bem, quero ser condescendente) a respiração da filha de Tom Cruse, a ponto de publicar centenas de notinhas sobre a garota? Ou o sujeito que escrevia a respeito foi demitido da publicação, ou arrumou outro personagem mais interessante, porque a era Surey desapareceu, e o mundo não acabou. Ninguém percebeu.

Neste exato momento estamos na era Eike Batista. Eike mudou o cabelo; Eike disse que compraria o SBT, Eike, Eike, Eike..... Em que pese o fato de Eike figurar diariamente nas páginas econômicas, a maior parte das notícias é desprovida de apuração que dê consistência aos fatos: os jornalistas estão publicando qualquer coisa sobre ele: ou porque ele manda via assessoria de imprensa, ou porque liga diretamente para as redações, ou pelo simples exercício do repórter em usar a mesma fonte, porque é mais fácil e assim resolve logo a fatura e vai embora para casa ou para qualquer outro lugar que não a redação.

Eike Batista até que era uma pessoa elegante, antes do seu divórcio com Luma de Oliveira. Ficava na dele; ela era a virtrine do casal. Adorava os holofotes, afinal esse era o seu meio. Até aí, nada demais. Ela fez a festa de muitos paparazzi e os ajudou a pagar as contas.

Mas alguma coisa aconteceu depois do divócio, que mexeu muito com a cabeça de Eike. Sua elegância foi para o brejo. Na ânsia de aparecer a qualquer custo se tornou deselegante e chato. A útlima grosseria foi declarar, um dia depois de anunciado o rombo o Banco PanAmericano, que compraria o SBT. Evidentemente teve que desmentir no dia seguinte, o que tornou a situação mais bizarra.

E por falar em coisas bizarras, uma vez dei de cara com um post dele no twitter que me deixou catatônica. Era mais ou menos assim: “meus amores, vou sair agora, mas já com saudades; não consigo mais viver sem vocês” (recado aos seus seguidores na rede social).

Os repórteres de uma fonte só não questionam nada, publicam, seja qual for a baboseira da hora. Boa foi a resposta de Silvio Santos, que deve ter deixado Eike sem dormir até agora: quem? Eike Batista quer comprar? Quem é essa pessoa? Eike deve ter consumido uma caixa de rivotril com a evidência de que pelo menos uma pessoa o ignora solenemente. Mas ele já deve ter tomado providência para corrigir esse (gravíssimo) erro.

Um comentário:

Adriano Berger disse...

Adorei esse post! principalmente a parte sobre Eike. Sabe o que penso a respeito? A imprensa está se movimentando de uma forma atípica após a eleição de Dilma. A Rede Record, por exemplo, está se tornando pequena diante de tanta lambeção ao governo. "Dilma peidou, e tinha cheiro de flores...". Só falta publicar isso, para me fazer mais claro a respeito.

Pois bem. Eike foi bombardeado durante a propaganda eleitoral da oposição como sendo um dos postulantes a mais ricos do planeta graças aos benefícios concedidos pelo governo federal. As empresas X foram a conhecimento público, e o governo seria corrupto por suas alianças e favorecimentos ao Eike, ou sua herança paterna.

Amarrando isso tudo parece-me que a imprensa passou a investir na des-demonização do empresário, já que o governo de situação ficou no posto, e na atual conjuntura, após as "sutis" declarações do Sr. Franklin Martins acerca dos objetivos governamentis diante da liberdade de imprensa, o melhor a fazer é unir-se aos interesses do governo.

Em outras palavras, a imprensa brasileira está cada dia mais parecida com um cachorrinho de madame: oferecendo carinho ao seu dono para receber colinho e papazinho na boquinha.

Grade abraço!
Adriano Berger