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terça-feira, 16 de novembro de 2010

A CRISE DO PANAMERICANO

Ainda é cedo para apontar o futuro do Banco PanAmericano. Tudo indica que muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte. Mas um fato, que não surpreende, já está delineado: Silvio Santos não delegou a ninguém a gestão da grave crise que se abateu sobre suas empresas, e muito provavelmente sobre a própria família. Ele tomou para si a responsabilidade do saneamento do Banco e, sobretudo, da proteção – o quanto é possível nesses casos – da imagem institucional das demais empresas do grupo.

Beirando os 80 anos, por maior que tenha sido o tranco, o Sr. Abravanel retomou as rédeas do negócio. Sambado depois de tantas décadas diante da televisão, vem enfrentando o caos conforme as melhores práticas dos manuais de crise.

Não se escondeu. Escreveu de próprio punho um comunicado que está sendo veiculado em suas emissoras de TV. Deu entrevistas sem alterar o perfil que o caracteriza há tanto tempo: o bom humor, por mais que estivesse dilacerado. Não fugiu das perguntas inconvenientes, mas usou argumentos certos para não detalhar as respostas.

Segundo relato de um dos advogados que cuida do caso, ao sair de uma reunião pesadíssima, a primeira da qual participava com o apresentador, o encontrou na garagem do prédio dando autógrafos e tirando fotos com fãs. Evidentemente com aquele sonoro sorriso nos lábios.

EM CADA CRISE UMA LIÇÃO

Eu entendo que toda crise corporativa traz sempre uma lição embutida não apenas para quem está envolvido diretamente com ela, mas para o mercado como um todo. Poucas empresas, ainda, tomam o cuidado de traçar planos de contingência. Às vezes, basta observar e encarar o óbvio: enfrentar, identificar o risco e adotar medidas, que nem sempre são as mais simpáticas.

Nesse caso específico, o óbvio estava escancarado: a falta de habilidade dos gestores, ou pelo menos do principal: o presidente do Banco. A crise do PanAmericano mostra ao mercado de forma avassaladora que [na visão do controlador familiar] os interesses corporativos não podem se sobrepor aos interesses familiares.Fica evidente que as empresas são organismos dinâmicos e independentes e se movem de acordo com interesses do mercado e não de seus idealizadores. Tentar acomodar interesses pessoais às práticas corporativas dificilmente dá certo.

As empresas estão habituadas a adotar planos de contenção de riscos que abrangem conteúdo técnico específico: acidentes, logísticos etc. Quando se trata da proteção da imagem institucional o cenário muda radicalmente: a incidência é infinitamente menor. Muitos empresários adotam a condição “low-profile” como medida de proteção, achando que estão protegendo a Companhia e a marca. A sofisticação do mundo corporativo torna essa medida, senão risível, no mínimo inocente demais.

Identificar os riscos, aceita-los friamente e corrigi-los, independentemente dos interesses pessoais são medidas de contenção que foram ignoradas por Silvio Santos, em favor de interesses familiares. Esse tipo de bomba relógio fica incubada durante muito tempo, prontinha para ser detonada. E foi o que ocorreu no PanAmericano. Hoje os jornais estão recheados de razões para que não se mantivesse Rafael Palladino na presidência do banco, em face de suas (poucas) qualificações para o cargo. Dezenas de “fontes não identificadas” que falam hoje aos jornais sabiam disto. Só Silvio Santos não sabia? Essa informação saiu do nada? Nunca circulou nos meios financeiros restritos? Ok, papai-noel existe e coelhinho da páscoa também.

E OS ASSESSORES / CONSULTORES?

Esse cenário traz à tona outra questão importante: a participação de assessores e consultores nas restritas equipes dos altos executivos. Para que servem esses profissionais senão para orientar, apontar e identificar zonas de atrito e risco? Silvio Santos poderia ter ignorado o fato de ter um executivo desqualificado tecnicamente para um cargo de altíssima responsabilidade. Mas dificilmente o fato era ignorado por toda uma equipe de assessores que gravitam o grupo SS. Ninguém disse a ele? Por que? Medo de ferir suscetibilidades? E as auditorias, obrigatoriamente contratadas para analisar balanços? Ah! Mas eram contratadas só para auditar balanços. Ok, lá vem papai noel de novo.

Encaremos os fatos: falar a verdade, apontar um erro e identificar um risco nem sempre é notícia agradável ao executivo. A medida mais comum é, portanto, adivinhem? Claro, dispensar os serviços do assessor ou consultor, como queiram chamar.
E, evidentemente, entre perder um bom cliente, falar a verdade, cumprir a função essencial, melhor ficar no meio termo, o eufemismo. Eu finjo que assessoro e você finge que não é centralizador e só faz o que lhe manda a consciência (e a família, nesse caso). Numa analogia simplista: venda o sofá, lembrando a velha piada do homem que surpreende a mulher transando com o vizinho no sofá da sala e, em represália, vende o sofá.

Resumo da ópera: o que ocorreu no PanAmericano acontece ainda – e vai continuar acontecendo por um bom tempo – em milhares de empresas: andar na corda bamba ainda é a opção para acomodar interesses, ainda que se ponha em risco toda uma estrutura constituída, empregos e muito dinheiro.

Falar a verdade, se posicionar sem eufemismos e medo ainda é muito mal visto em grande parte das Companhias. O perfil psicológico da média do empresário brasileiro encara isto como afronta, falta de educação e desrespeito à hierarquia. Eu já perdi muitas contas porque abordei abertamente problemas que estavam debaixo do tapete. Alguns colegas atribuem a isto um comportamento “excessivamente emocional”. Mas eu sigo preferindo ser paga para fazer o que reza no contrato. Tem dado certo, apesar do preço eu resolvi pagar.

P.S. Escrevi este texto antes de ler a entrevista de Silvio Santos na revista Veja. A peça corrobora e reforça todas as considerações do texto. Uma peça para profissionais e aspirantes a gestores de crise.

2 comentários:

Anônimo disse...

sabe o que os camelôs da 25 de março andam cantando? Silvio Santos vem aí, lá-iá-lá-lá-lá-lá...

Anônimo disse...

Primeiro, seu texto esta completamente desinformado, quando se fala de um empresario como silvio santos tem de se levar em conta que não se trata de um empresario convencional, é um artista e, como artista tem um ego gigantesco, foi avisado inumeras vezes por executivos do grupo ss, inclusive pelo sandoval, que rafael estava fazendo tudo errado no banco, sandoval sugeriu que trocasse rafael paladino por wadico buchi, ex-presidente do banco central e, que na ocasião era conselheiro no banco, mas silvio não ouvoi, por um simples motivo, quem o conhece sabe que não escuta ninguem e deu no que deu, mas ele sabe que o maior culpado disso tudo é ele por´prio ss e, por isso, assumiu tudo, mas esse é um direito dele, ele construiu o imperio sozinho e ele sozinho que vai acabar com seus negócios, e ninguem tem nada que ver.