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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

NUNCA JAMAIS EM TEMPO ALGUM....

Em entrevista à TV UOL, o ex-governador de São Paulo, Claudio Lembo, do DEM, meio em tom de brincadeira, meio sério -- e é nessa batida que os maiores e melhores recados são passados -- disse que José Serra ganharia a eleição se telefonesse menos para as redações. No Facebook, uma repórter sambada de guerra, daquelas muito boas, explicou que Serra liga, sim, para as redações, sobretudo para pedir que derrubem matérias desfavoráveis. Liga para a redação, liga para o dono jornal.

Não é de hoje que os profissionais de imprensa reclamam da postura de Serra. Por arrogância, mal humor e.... porque liga para pedir que derrubem materias que não lhe são favoráveis. Que feio, tão tarimbado....

Quando vejo casos desse tipo, fico com pena do assessor de imprensa do sujeito. Ele não é o único, claro. Mas um político na sua posição já teve tempo suficiente para aprender que essa atitude é absolutamente inadmissível na relação entre fonte e profissionais de imprensa. É, disparado, a lição número 1 em qualquer media-training (treinamento que melhora a performance das fontes junto aos jornalistas).

Se você quer arrumar um inimigo para o resto da vida, adote esse método. É infalível. Pior que isso, só pedindo para ler a matéria antes de ser publicada. Reza a lenda, contada e decantada em todos os bancos acadêmicos, que certa vez uma fonte, depois de uma longa entrevista pediu gentilmente ao repórter para ler a matéria antes da publicação. Gentilmente, também, o repórter respondeu que, se ele não tinha confiança naquilo que dissera, ele, o repórter, tinha total domínio sobre o que ouvira. Ou seja, cada um no seu quadrado, fazendo bem o seu trabalho e ponto final.

Pedir para a chefia derrubar uma matéria ou pedir para ler o material antes da publicação é a pior forma de se relacionar com a imprensa, seja lá qual for o cargo que a fonte ocupa. Isso viola a liberdade de expressão, é tentativa de cercear o trabalho alheio e por aí vai.

Eu já me deparei com essa situação, mas o cliente era novo, nunca tinha falado com um jornalista da grande imprensa e a entrevista foi meio de sopetão, e não tivemos tempo para as preliminares. No fim da entrevista, sem qualquer prurido, o sujeito vira-se para o repórter, da revista Veja, e pede para ler antes. Eu acompanhava meu cliente, estava sentada ao seu lado e gelei. Respirei fundo, coloquei minha mão sobre o seu braço e disse, obviamente, na frente do repórter: fulano, essa prática não existe. Você falou perfeitamente bem sobre o que lhe foi perguntado e cicrano é competente o suficiente para colocar desta forma no papel.

Ambos entenderam meu papel naquela circunstência e não se falou mais no assunto (exceto depois, claro, quando o cliente passou por um extenso treinamento). Mas pelo jeito, Serra é recorrente.

Não é fácil estabelecer equilíbrio nessa relação, mas quando a base dela é o respeito mútuo, a coisa fica mais fácil. Evidentemente, nem sempre gostamos daquilo que lemos sobre nós, nossa empresa ou nosso partido político. Mas conviver com o contraditório também é uma ação política, necessária em todos os campos de relacionamento. Cabe às fontes e suas respectiuvas assessorias (quando estas são respeitadas como tal) discutirem as melhores práticas, as melhores formas e conteúdos. Para que jamais tenha que passar por esse vexame.

P.S. Sou profissional de comunicação e como tal esse comentário não tem qualquer cunho político partidário. Apenas técnico.

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