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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O PREÇO DA CRISE

Resisti o quanto pude a comentar a crise do Santos com Neymar. Amigos e até um cliente cobraram. A eles cheguei a dizer, até em tom de gozação, que o caso é para psiquiatras. Mas evidentemente algo estava me incomodando, e hoje, bingo!! Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo me ajudou a entender.

Enquanto todos discutem indisciplina, arrogância e blá-blá-blá, Bergamo informa que a diretoria do Santos ficou enfurecida com o técnico Dorival, porque o Clube fatura 30% de tudo o que a imagem do craque Neymar levanta com publicidade. Portanto, como o Santos conseguiria vender a imagem de um craque humilhado?

Brilhante. Fim do nhem-nhem e vamos ao que interessa. A discussão agora entrou no campo corporativo. Na poderosíssima indústria do esporte não entram derrotados. Só os heróis. Quem vai apostar num garotinho mimado e temperamental, sem educação e respeito pelos princípios esportivos? Só um maluco.

O caso Neymar é emblemático e exemplar para os postulantes a ídolo e, transportando-se para o universo corporativo e, portanto, também para os executivos que se imbuem de poder supremo, e em determinado momento decidem que têm o poder de vida e morte sobre tudo e todos. O resultado, mostra-nos a história, é óbvio ululante: se esborracham na queda.

Exemplos não faltam, no esporte ou nas empresas: Tony Hayward, presidente da BP, defenestrado da Companhia no olho do furacão. Bateu o pé e disse que queria a vida dele de volta. No campo esportivo as consequências também são rápidas: os patrocinadores, amparados por cláusulas contratuais enérgicas, suspendem o contrato aos primeiros sinais de conduta irregular. Tiger Woods viu sua receita minguar dias depois da explosão de escândalos sexuais; o goleiro Bruno idem. Romário, por exemplo, se achava dono do mundo e nesse caso, nem precisou da ajuda de patrocinadores para aprender que não era senão um atleta: a própria vida se encarregou de mostrar qual é seu lugar. Adriano, o Imperador, recolhido ao ostracismo na Itália, provavelmente jogou fora uma grande chance de tornar-se um ser humano melhor.

O resumo da ópera é simples: os contratos publicitários milionários ou uma cesta de bônus mais que atraente têm se encarregado de mostrar que no esporte, nos gabinetes luxuosos de escritórios globalizados e na vida, o que conta é a atitude em consonância com a competência e talento. É por meio delas que ídolos ou monstros serão lembrados.

Li em algum lugar, e me perdoe o autor pela falta de crédito porque não lembro, que a arrogância é a arma dos fracos e inseguros. Na sala de guerra do Santos, eu recomendaria um psicólogo com métodos inovadores para tratar garotos que aos primeiros sinais da fama perdem a noção da ética, do respeito e do espaço que ocupam. Porque a vítima, em futuro não tão longínquo, pode ser o próprio bolso do atleta e do clube. Que o diga Romário e tantos outros que “se achavam”, e hoje recorrem à privada dos derrotados: um cargo público como vereador ou deputado.

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