Já falei sobre este tema, mas não resisto em voltar à vaca fria, depois da (merecida) demissão de John Galliano, imposta pela Christian Dior. Vou tentar mudar o viés, pra não ser tachada de repetitiva.
Não foram poucas as vezes que, depois de um diagnóstico, expliquei ao cliente que a empresa que ele dirigia estava precisando de um bom programa de comunicação interna. E também não foram poucas as vezes que recebi como resposta um sonoro “não”, sob o argumento de que a empresa operava no setor de serviços, eram cento e poucos funcionários, a maioria circunscrita num escritório blá, blá, bla.
Um deles foi mais explícito e do alto de todo seu vasto conhecimento sobre comunicação e marketing, disparou: jornalzinho interno é pra peãozada. Evidentemente, esse cliente durou pouco na agência.
De novo: a comunicação interna busca reforçar os valores da empresa; valores esses previamente combinados com os russos, ou seja, um acordo, de preferência selado e assinado, que exponha como a direção quer que a banda toque, de acordo com as suas crenças, valores e visão.
Se a Christian Dior fez a lição de casa, não se sabe. Galliano era uma estrela lá dentro e geralmente com os gênios ninguém mexe, até que.....eles façam uma tremenda lambança que afete profundamente a imagem da instituição que representam.
O fato é que Galliano foi demitido da Dior depois de desastrosas declarações sobre nazismo, racismo e outras coisas não menos desagradáveis. Foi preso, inclusive, e estava bêbado.
Diante desse quadro, eu diria que os gênios, as estrelas e darlings que permeiam qualquer empresa que se preze, deveriam ser os primeiros a serem orientados a seguir a cartilha da empresa: seus valores e visão no mundo. É simples: são esses caras que estão no foco das lentes e microfones. Eles são visados e instados a emitir opinião até sobre os mais singelos absurdos. Mas geralmente essa categoria só quer o bônus do sucesso e da fama; o ônus que fique com a instituição. A Dior mostrou, sabiamente, que não é bem assim que a banda toca.
Quando um sujeito assina um contrato e passa a carregar um sobrenome que o qualifica profissionalmente, como por exemplo, John Galliano, da Christian Dior, ele é percebido imediatamente como parte daquela organização. Desta forma, não adianta depois chorar pelo leite derramado e dizer que falou como pessoa física.
As relações profissionais estão intimamente atreladas à vida social e usá-la apenas quando se quer imprimir mais importância à sua existência não faz parte da brincadeira. A relação é bilateral, alguma coisa como: você usa o peso da minha marca e eu uso o peso da sua genialidade.
Esse acordo não pode mais ficar apenas no aspecto lúdico e etéreo da questão. Deve ser amplamente discutido, orientado e exaustivamente martelado com as ferramentas da comunicação interna, a fim de se evitar riscos como o que correu (e perdeu) John Galliano. Entre a genialidade de Galliano e a grana das clientes judias e asiáticas, a Dior ficou com a segunda opção e, certamente, marcou pontos importantíssimos junto a essas comunidades.
Ninguém precisa ser um John Galliano para se cuidar publicamente. Em festinhas corporativas, happy-ours, ou qualquer reunião informal o cuidado deve ser o mesmo de quando se está frente a frente com a presidência. Quando alguém retira um crachá no departamento de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas como querem os modernets, está se aceitando um conjunto de códigos que deveriam ser expressos no contrato de trabalho. Quando não estão, muitas empresas usam as velhas e boas cartilhas, outras nem chegam a tanto, mas o empregado, colaborador, funcionário ou qualquer que seja o nome adotado deve ter, apenas e tão somente, BOM SENSO e EDUCAÇÃO.
O comunicado da empresa que anuncia a demissão de Galliano reforça tudo o que eu disse acima: "Nós repudiamos em absoluto os comentários feitos por John Galliano, que são totalmente incoerentes com os valores da Christian Dior", afirmou o presidente da marca Sidney Toledano.
terça-feira, 1 de março de 2011
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