Por intermédio da assessoria de imprensa, Zico informa que não se pronunciará sobre o caso (Bruno, goleiro). Mais que previsível. Não se poderia esperar outra reação. Os times brasileiros funcionam como grupos de várzea, faturam como multinacionais e se lixam para sua relação com a sociedade e portanto, com a própria atividade (esporte envolve saúde, equilíbrio, exercício de cidadania, etc).
Mas o Zico é diretor técnico, e em que pese sua importância histórica para o clube, a palavra cabe à presidência, hoje a cargo de Patrícia Amorim. Ela tem resistido a vir a púbico, e com isso já conseguiu atrair para o clube comentários nada simpáticos. Poderia evitá-los, poderia sair dessa crise mais fortalecida, poderia reverter uma situação ruim de associação negativa imediata a ações positivas e salutares à imagem do clube.
Estar à frente de uma crise requer pensamento estratégico, coragem, disciplina e argumentação. Por quais motivos Amorim estaria se esquivando de um pronunciamento, ninguém sabe. Haveriam problemas trabalhistas envolvidos? O clube está protegendo o (ex) atleta?
Essas perguntas já têm sido formuladas por críticos, cronistas esportivos, formadores de opinião. Se ela (a presidente) não sabe respondê-las, é outra história. Mas, é, sim, sua obrigação vir a público e arrastar a cantilena, porque deve isso aos sócios, torcida e à sociedade. O Flamengo é uma organização esportiva, e como tal precisa se posicionar sobre temas que gravitam em seu entorno. É assim que funcionam as sociedades modernas.
A exemplo das empresas, que cada vez mais adotam causas socioambientais como forma de participarem efetivamente das comunidades nas quais estão inseridas e nas quais suas atividades provocam impacto, os clubes também se relacionam com a sociedade. O fato concreto é que um (ex) atleta do Flamengo está envolvido num crime de proporções até então inimagináveis e a liderança máxima deste time deve expressar sua posição em relação à circunstância. Impossível desvincular o fato de que Bruno confunde-se com o Flamengo, tanto quanto qualquer funcionário que prega um crachá numa camisa. Ao fazê-lo, esse funcionário expressa a visão, a missão e os valores daquela companhia. Exatamente o que Bruno fazia sempre que vestia a camisa número 1 do clube.
Porém, ao contrário do funcionário de crachá que bate cartão todo dia, Bruno contava com uma máquina midiática estrondosa e portanto a responsabilidade torna-se muito maior, pela abrangência de público que alcança.
Patrícia Amorim está em débito. E, pelo menos aparentemente, não tem qualquer motivo para isso.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
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