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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

CRISE NO RJ – UM ARSENAL DE LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL

O gol olímpico do governo do Rio de Janeiro foi marcado por um passe errado do adversário. Muito provavelmente articulações já vinham sendo amarradas para conter o poder do tráfico, sobretudo como parte dos esforços para realização dos eventos esportivos que se aproximam. Mas o tráfico resolveu testar seu poder e percebeu tarde demais que ele estava superestimado e adiantou o cronograma.

Copa e Olimpíadas já oferecem seu primeiro resultado positivo para a cidade do Rio de Janeiro. Uma pena que se tenha esperado um evento de repercussão internacional para libertar a população do tráfico de drogas, povo refém há quase 30 anos.

Os ataques à cidade deflagraram ações cinematográficas, parcerias inimagináveis entre poderes até então, e finalmente o apoio político e social fecharam o círculo que faltava para dar a força necessária para que se chegasse à retomada de áreas até então dominadas pelos bandidos.

Um exercício salutar nesse momento é fazer um paralelo com crises empresariais: se você não conta com o apoio do seu público interno as coisas ficam sempre mais difíceis.

A condução da crise está sendo permeada por atos simbólicos que reforçam os valores que se pretende perpetrar. Um dos mais visíveis foi o hasteamento das bandeiras do Brasil e da Polícia Civil do Rio de Janeiro no alto do morro, onde está sendo construído um teleférico, no Complexo do Alemão. Este ato foi marcado por um dos mais gritantes escorregões de comunicação subliminar, numa demonstração de arrogância sem precedentes da Polícia Civil do RJ, ao hastear sua bandeira ao lado da bandeira do Brasil. O ato, aparentemente simples, excluía as demais forças de repressão, que foram decisivas na execução do plano de retomada do Complexo do Alemão: Marinha, Exército, Polícia Federal, BOPE e Bombeiros. O vexame durou menos de meia hora, até que alguém de bom senso substituísse a bandeira da Polícia Civil pela bandeira do estado do RJ.

O comitê de crise não está economizando mensagens verbais e não verbais para reforçar a importância da ação em curso, e o hasteamento das bandeiras é uma das mais robustas destas manifestações. Outra ação bem planejada para reforçar todo trabalho, valores e missão da tropa, foi a apresentação do traficante Zeu, ao 16º Batalhão da Polícia Militar, nos moldes de um troféu de Fórmula 1.

O atrito entre polícias civil e militar ficou evidente durante esta apresentação, quando uma repórter pergunta ao policial que apresentava o traficante sobre a prisão de outro bandido. A resposta foi curta e incisiva: “não sei, isso é com a Polícia Civil”. Um back-dropp, a que tudo indica preparado às pressas, foi posicionado atrás do bandido apresentado como troféu, e evidenciava o dono da obra: Polícia Militar. Duas auxiliares da Polícia se esforçavam para manter o quadro na posição que renderia a melhor imagem.

Ainda no quesito comunicação, a imprensa também teve papel fundamental. Por meio dela as autoridades mandavam recados aos chefes do tráfico, motivava a população e esclarecia quem estava no comando a partir de então. A imprensa trabalhou intensamente para promover o efeito demonstração que as autoridades tanto necessitam nesse momento.

Houve, evidentemente, os costumeiros escorregões das coberturas ao vivo, quando repórteres e apresentadores têm que lidar com o inusitado, não contam com o conforto do teleprompter e o tempo adequado para as devidas produções. A tarimbada jornalista Leilane Neubert (Globonews), por exemplo, disse que pela primeira vez em tantos anos de exercício do jornalismo, vê a população participando intensamente, denunciando e auxiliando o trabalho das Polícias. Ela diz que antes predominava a lei do silêncio. Em outro momento, Leilane repete que “depois que a comunidade parou de dar apoio e cobertura aos traficantes....”

Que equívoco!!

Tão tarimbada e morando no RJ e não lembrou que até então o tráfico era o único poder instituído nos morros? Por quase três décadas o tráfico era o governo nas favelas: proveu serviços como transporte, auxilio em doenças, distribuíam até comida, em troca de absoluta obediência. O preço pago por quem abrisse a boca era a morte sumária. Quando essa mesma população viu-se amparada pelo poder público, o que até então não acontecia, ofereceu cooperação. Simples assim.

Em contraponto às várias oportunidades de querer jogar no colo da população a relação dos traficantes com as comunidades, registre-se aqui o comportamento corporativista da mesma Leilane e do repórter que registraram a prisão do condenado Zeu, cujo mais forte aposto para qualifica-lo era a participação do meliante na morte do colega de emissora Tim Lopes. A entrada do repórter na programação, e sua apresentação do bandido no ar foram catárticas.

Vale registrar a supremacia da TV Globo, via Globonews, na cobertura dos eventos que culminaram na histórica derrota do tráfico, pelo menos por ora, no RJ. A BandNews, que curiosamente fez uma cobertura exemplar no resgate dos mineiros do Chile, se limitou, neste evento, a boletins burocráticos no meio da programação normal, como se passasse receitas de bolo aos seus telespectadores. Isso pode ser explicado pela sua pequena presença no Estado, e portanto as equipes devem ser exíguas. O que não exclui o fato de ter deixado de dar notícia de qualidade para sua base de assinantes em nível nacional, já que poderia ter deslocado equipes de São Paulo para o Rio de Janeiro. Tempo teve para isto. Infelizmente não posso registrar a participação da RecordNews, porque não tenho essa emissora na minha grade de TV a cabo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Silvana

Não esquecí o nosso café que acontecera´antes do natal.

Parabéns a voce pelo texto de qualidade. Incrível profissionais assim não estarem na grande mídia.
Por isto defendo a meritocracia.
Possivelmente passariam a tesoura no texto porque é muito claro, muito objetivo e muito informativo. sobretudo se fosse na venus platinada que não faz jornalismo, faz novela com alguma notícia e muita desinformação.