É evidente que a população carioca, e todos os brasileiros, claro, querem saber o que têm a dizer as autoridades: governador, prefeito, e até o presidente, por que não?
Sinto informar: eles não sabem o que dizer. Não têm a menor ideia do que está acontecendo e estão catatônicos. O prefeito da Cidade Maravilhosa acaba de conclamar o povo a não se acovardar. Tentei uma tradução do termo: saiam às ruas e enfrentem os bandidos; façam o que nunca tivemos, nós os políticos, coragem de fazer quando jogamos a sujeira embaixo do tapete e fingimos que a cidade era, realmente, maravilhosa.
Nesse momento, o bairro da Penha é a imagem real de uma praça de guerra: BOPE e blindados da Marinha se aglomeram e a impressão é que andam em círculo. Só hoje foram mais 14 veículos incendiados e o dia está apenas na metade. E o prefeito vem a público pedir que a população não se acovarde. E tem mais: no meio do caos, dessa guerra insana, o prefeito completa dizendo que essa onda de violência não vai impedir a realização da Copa e dos Jogos Olímpicos.
Eu fico realmente chocada com a capacidade de pessoas públicas, políticos principalmente, de produzir pérolas como essa, em meio à guerra implantada pelos bandidos no RJ. Vou tentar traduzir essa também: povo da minha cidade, não importa o medo, desconforto, pavor, perdas e insegurança que vocês estejam sentindo nesse momento. Os grandes eventos vão acontecer de qualquer jeito, porque nós precisamos "vender" o RJ como principal destino turístico brasileiro. O resto é balela. Contamos com a ajuda das novelas das 21hs, das celebridades que certamente comporão as proóximas passeatas que terminam na praia, com todo mundo seguran do rosas vermelhas e se abraçando.
A incompetência dos governantes, que há décadas vêm fingindo que fazem e o povo fingindo que acredita, levou o Estado à situação em que se encontra. Décadas de corrupção e megalomania produziram esse resultado, que tudo indica, incontrolável.
O Rio de Janeiro parece ovo de passarinho: tem a casca muito fininha. A Cidade Maravilhosa é um pedaço de orla marítima. O que sobra depois dela tem cheiro de urina. São verdadeiros heróis os que vivem na cidade, criaram uma família e trabalham dia-a-dia em busca de uma vida melhor. No lugar de Eduardo Paes, eu não pediria que essas pessoas não se acovardem. Eu pediria que se protegessem em casa, pois fecharíamos o Estado para balanço.
Para nós, que acompanhamos tudo de longe, as imagens são avassaladoras. Prédios sendo evacuados no centro da cidade; 21 escolas e 12 creches fechadas, explosões que podem acontecer em cima, ao lado ou bem perto de qualquer cidadão de bem que mora na cidade do Rio de Janeiro. E vem o prefeito pedindo ao povo que não se acovarde. Será que prefeito, governador, parlamentares enfim, mandaram seus filhos à escola hoje? De onde saiu essa pérola de discurso, pedindo à população para não se acovardar? Evidentemente de algum gabinete cercado de seguranças.
Haja rivotril pra esses políticos, porque essa crise vai emendar com as chuvas do verão, e novos morros vão desabar sobre muitas cabeças. Mas isso parece não ter importância, porque o desabamento do Bumba já foi devidamente esquecido, juntamente com as pessoas que alí moravam, e tudo está pronto, à espera da nova tragédia.
Eu quis escrever um artigo sob o viés da comunicação. Não dá, porque antes de um plano de comunicação, é preciso que haja uma organização social: uma empresa, uma cidade, um país, por exemplo. Não foi possível, porque hoje o RJ não é nada disso.
E os políticos? Ora, os políticos: estão pensando nas próximas campanhas, ora bolas.
Um comentário:
O que fazer quando essas "otoridades" fazem um plano de invasão e ocupação com aviso prévio, induzindo a fuga e concentração de todos os procurados em um único local?
E o que dizer de uma ocupação que não oferece alternativa a quem ficou pra trás nas comunidades? O que impede que esses "abandonados" sejam seduzidos pelo narcotráfico?
E quantas comunidades existem no Rio? Últimos levantamentos indicam mais de 800 comunidades. A 12 UPP's por ano, quanto tempo vai levar? Não seria melhor pensar em educação inclusiva, prevenção contra a dependência sob a ótica da saúde e discussão do enquadramento legal das drogas?
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