Algumas pessoas perdem completamente a noção de tempo, espaço, coerência e bom senso quando chegam ao topo. Alguns se imbuem do direito de opinar sobre tudo e todos, como se a fama lhes conferisse o domínio sobre todos os temas, se lixando para a carga de preconceito, desinformação e ignorância que muitas de suas mensagens produzem.
Quando isso acontece, não tem assessor de imprensa que salve. O resultado é previsível: arranhões desnecessários na imagem da figura pública, e, em estágios avançados, revisão dos patrocinadores / anunciantes baseados no “bobajômetro; ou dos eleitores, do consumidor, ou quem quer que esteja suscetível às mensagens mal colocadas. Por isso, minha recomendação aos meus clientes é sempre categórica: fale apenas sobre aquilo que tem domínio absoluto. Na dúvida, fique quieto, ou quieta.
Normalmente isso acontece com jogadores de futebol, políticos e alguns empresários despreparados. Ultimamente, quem tem derrapado feio e além da conta no quesito “opinião” é a top brasileira Gisele Bündchen, cujas tiradas já começam a despertar a atenção da mídia – nesse caso internacional – sobre as bobagens que tem dito, em tom de verdades absolutas e inquestionáveis. Algumas delas:
"Não coloco esse veneno na minha pele." (sobre protetor solar)
"Algumas mulheres quando engravidam acham que podem se tornar um triturador de lixo. Eu tinha consciência do que comia, por isso só ganhei 13 quilos." (Sobre quilos extras na gravidez)
"Deveria ter uma lei que obrigasse as mães amamentarem seus filhos até os seis meses." (Sobre amamentação).
Depois destas (e outras não menos infelizes), o jornal New York Post saiu com a seguinte manchete: “Shut up, Gisele”.
Ao sair por aí vomitando regras tão cartesianas, Gisele demonstra, primeiro, uma falta absoluta de visão do mundo. Portanto, melhor seria fazer apenas o que sabe fazer de melhor: interagir com as câmeras fotográficas.
Isso apenas já estaria de bom tamanho. O mundo – e a Sociedade Brasileira de Dermatologia, por exemplo – já estariam satisfeitos sem a sua opinião sobre protetores solares.
Sobre mulheres que engordam na gravidez, demonstra uma tremenda alienação –que só reforça preconceitos e estigmas sobre as modelos – a respeito das condições de vida das mulheres comuns, que não têm nem um décimo das condições da modelo – genéticas e financeiras – para manter o corpitcho em ordem depois de nove meses carregando um rebento no ventre. Seria de bom tom que um assessor mais preparado inteirasse a top sobre as condições de vida das mulheres -- trabalhadoras e brasileiras --, muitas das quais mal têm dinheiro para comprar as vitaminas prescritas durante a gestação.
Gisele mantém e reforça a alienação ao desconsiderar, de novo, as condições físicas, emocionais e financeiras de mães que desmamam seus filhos antes dos seis meses de idade. Afinal, não são todas as mulheres da terra que podem carregar seus rebentos, pra lá e pra cá, acompanhadas de um séquito de empregados, e tirar o peito pra fora sempre que o garoto chora.
Apenas para lembrar, a grande maioria, a maioria esmagadora de mulheres trabalha fora, depende de creches, quando existe creche perto de casa ou trabalho, da benevolência dos chefes, entre tantas outras variáveis, depois que pariram suas crias. Amamentar ou sobreviver no campo profissional não é exatamente uma questão de escolha. E sobreviver no campo profissional, para grande parte das mulheres, significa sobreviver, no sentido lato.
Parafraseando a própria Gisele, eu acho que deveria haver uma lei que proibisse as celebridades de falarem tanta bobagem, exporem tanta ignorância, já que esse mal os assessores de imprensa não conseguem evitar.
Um comentário:
Sil, sensacional (como sempre)!!! bjs
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