Hoje o jornal O Estado de S. Paulo (caderno Negócios) trouxe uma matéria interessante assinada por Marili Ribeiro, primeira iniciativa clara da grande imprensa em dissecar a condução da crise no braço financeiro do grupo Silvio Santos. Marili é sambada na área, cobre assuntos de propaganda e comunicação com textos brilhantes, no jornal ou no seu blog.
O texto deixa claro – nas entrelinhas – que não existe profissional da área (gestão de crise) na equipe, liderada pelo próprio Silvio Santos. Como adiantei em post anterior sobre o mesmo tema, é o próprio SS que desempenha o papel. Previsível.
O publicitário Sergio Guerreiro declara na matéria que a entrevista de SS na Folha S. Paulo (a primeira depois da notícia do rombo, dias antes) teve tom “galhofeiro” e portanto foi inadequada. Discordo em gênero, número e grau. Por quê?
1- A colunista Monica Bergamo furou toda estrutura e pegou o empresário em casa, por telefone. Ele poderia ter se esquivado, dito que estava ocupado e, portanto, não atendido a repórter.
2- Atendeu e foi absolutamente espontâneo, usando de artifícios que o caracterizam há décadas na televisão. Estranho seria ler um SS totalmente sério, falando economês: o público e o mercado (a quem ele se dirigia na entrevista) não o reconheceriam e a mensagem teria um tom maquiado, falsificado. SS também não perdeu a oportunidade de fazer uma piada na entrevista publicada pela revista Veja com o paresentador. Portanto, nada com ele é por acaso. Ele desenha a estratégia e a executa.
3- O tom da entrevista confere credibilidade, passando aos interessados o recado de que o fato não o derrubou, mas estava, desde então, sob seu controle. E por isso mesmo ele usou o mesmo tom que o caracteriza, sem maquiagem ou malabarismos tecnocratas.
4- Isso mostra que o gestor tem que manter, mesmo durante a crise, valores, crenças e reforçar a missão da organização, mesmo que por vias indiretas e linguagem subliminar.
5- Guerreiro recomenda também a adoção da mesma postura do principal executivo da Toyota, que foi a público pedir desculpas após uma sequência de recalls em seus automóveis. Não podemos nos esquecer que o presidente da montadora demorou muito para adotar a iniciativa, e só o fez quando a situação já era insustentável. Ao contrário do Silvio Santos, que agiu prontamente. Além disso, o formato usado pelo executivo da Toyota é muito próprio da cultura japonesa, que não guarda semelhança com o comportamento empresarial brasileiro. Pelo contrário.
6- Mesmo sem o pedido formal de desculpas (não teria porque: ele adotou todas as medidas necessárias, disponíveis e cabíveis, até agora, para estancar a sangria do Banco), o Grupo SS fez veicular fatos relevantes em seus próprios canais e na mídia impressa.
7- As situações são completamente diferentes entre Toyota e Grupo SS. A Toyota estava colocando em risco vidas humanas e demorou para reconhecer o fato. O Grupo SS se colocou à disposição para promover o saneamento do Banco, não usou dinheiro público e colocou seu patrimônio em garantia.
Gestão de Crise não é uma ciência exata e nem tem ferramentas de prateleira. Cada circunstância requer uma textura, uma temperatura diferente um perfil de equipe difernte. A observação (atenta) de cada caso oferece legítimas oportunidades de aprendizado. E o titio Silvio ainda tem muita coisa a ensinar a muita gente.
Um comentário:
Silvana, como você narrou muito bem, SS agiu com extrema dextreza quando expôs publicamente o problema do banco e apresentou as providências. E sua sabedoria foi tamanha que teve o cuidado de demonstrar que o problema é tão controlável que colocou todo o seu patrimônio em garantia. Se ele fosse presidente dos EUA, o mundo não teria entrado em crise com o caos imobiliários... rsrsrs
SS é um gênio dos negócios corporativos, e sua maior façanha foi amarrar todas as suas empresas de tal maneira que cada uma favoreça a outra simultaneamente. Utiliza seus programas de maior audiência para merchandising dos próprios produtos, próprias lojas e próprio banco.
Grande abraço!
Adriano Berger
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